Luís Vaz de Camões, no poema épico Os Lusíadas, refere os Campos Tartésios (III, 100) e o rio Tarteso (VIII, 29). O objectivo deste artigo é explicar a presença destas referências geográficas no poema, analisando a vida do poeta (e as discussões em torno desta) e a sua relação com o contexto cultural e intelectual no Portugal do século XVI, bem como alguns aspectos da construção deste brilhante testemunho da literatura portuguesa. Após a discussão deste contexto, analisa- se a discussão em torno das fontes clássicas, portuguesas e espanholas que, provavelmente, o autor utilizou para escrever o poema, o que é comparado com as poucas informações que detemos quando tentamos reconstruir a vida do poeta.
Neste sentido, é provável que Camões tenha adquirido alguns conhecimentos na Índia e não apenas em Portugal. Concluise que as prováveis fontes para Tartessos n'Os Lusíadas são o Dictionarium de A. A. Nebrija e o Libro de Grandezas y cosas memorables de España, de Pedro de Medina, escrito em 1548 (i.e., antes da partida de Camões para a Índia), especialmente o primeiro na versão latina do termo (tartessus/ tartessius).
Analisam-se, igualmente, as regras da métrica que, provavelmente, obrigaram o poeta a incluir, n'Os Lusíadas III, 100 e VIII, 29, os termos campos tartésios (uma alternativa a campos de Tarifa) e Tarteso (uma alternativa a Guadalquivir, Bétis e outros sinónimos utilizados no poema). Do ponto de vista historiográfico, Camões não estava interessado neste tema, uma vez que tenta, primeiro, dar ao seu país uma espécie de identidade colectiva e uma mensagem nacionalista (Lusíadas = filhos de Luso). Estas referências levam-nos a incluir Camões na história da recepção de Tartessos na historiografia ibérica.
Luís Vaz de Camões, in the epic poem Os Lusíadas, refers the tartessian fields (III, 100), and the river Tartessus.
The aim of this paper is to explain the presence of these geographical references in the poem, analyzing the poet's life (and the discussions around it) and his relationship to the Portuguese cultural and intellectual context in the 16th Century, as well as some aspects of the construction of this brilliant testimony of the Portuguese literature. After the definition of this context, we analyze the discussion about the classical, Portuguese and Spanish sources that the poet probably used to write the poem, which is compared to the scarce information that we deal with, when we try to reconstruct the poet's life. In this context, it's probable that Camões could have acquired some knowledge in India and not only in Portugal.
We reach the conclusion that the probable sources for Tartessus in Os Lusíadas were the A. A. Nebrija's Dictionarium and Pedro de Medina's Libro de Grandezas, wrote in 1548 (i.e., before Camões' departure to India), especially the first one in the latin version of this word (Tartessus/ Tartessius).
We analyze as well the metrical rules that, probably, forced the poet to include in Os Lusíadas III, 100 and VIII, 29 the words campos tartésios (an alternative to campos de Tarifa) and Tarteso (an alternative to Guadalquivir, Betis and other synonyms used in the poem). In the historiographical point of view, Camões was not interested in this theme, because he tries, first, to give to his country a kind of identity and a nationalist message (Lusíadas = sons of Lusus). These references lead us to include Camões in the history of the reception of Tartessus in Iberian historiography.
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