Neste texto parte-se de uma concepção epistemológica da produção artística, apresentando-a como forma de conhecimento com exegeses e intervenções sobre a doença alternativas ao núcleo hegemónico dos discursos e práticas da biomedicina. Pretende-se uma análise dos diálogos e confrontos estabelecidos entre arte, biomedicina e conhecimentos incorporados, procurando as continuidades, as configurações híbridas e os incomensuráveis entre as três versões do real nas suas representações e intervenções sobre o cancro através da exploração de dois projectos artísticos de produção feminina centrados no cancro de mama. A produção artística será analisada como um exercício alternativo de vivência, compreensão e acção sobre a doença oncológica proposto por mulheres nos seus confrontos individuais com o cancro. A proposição de contra-hegemonia depende de assumirmos estas propostas enquanto resistências a leituras e planos de acção procedentes de instituições e actores dominantes na abordagem à doença, onde podemos incluir a versão hegemónica do sistema biomédico, as transnacionais farmacêuticas e a ciência sob o formato material de tecnologias da saúde.
© 2001-2024 Fundación Dialnet · Todos los derechos reservados