Este trabalho é resultado de uma pesquisa de tese de doutorado, realizada na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A pesquisa procurou identificar as transformações ocorridas no papel das organizações não-governamentais que trabalham com crianças e adolescentes na cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 80 e 90. Procurou-se também analisar as implicações de tais transformações na política de atendimento a esta camada da população e no trabalho interventivo hoje realizado junto à mesma pelas ongs em nossa sociedade.
A identificação das transformações ocorridas foi realizada por análise documental e, sobretudo, pela análise das entrevistas realizadas com profissionais que desempenharam importante papel de mobilização e articulação da sociedade civil, na década de 80, pela mudança paradigmática no tratamento dado pela sociedade às crianças e aos adolescentes brasileiros e que, posteriormente, durante a década de 90, envolveram-se no trabalho interventivo junto a esse grupo, procurando garantir os direitos conquistados no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A partir da identificação do perfil de atuação das ongs na área da criança e do adolescente nas duas décadas, procurou-se analisar o papel dessas organizações no cenário atual e as questões a elas relacionadas, como a sua relação com o Estado, principalmente no que tange às parcerias realizadas entre governos e ongs para o desenvolvimento de ações que conformam políticas sociais, o desafio da construção de uma esfera pública na sociedade brasileira, e a efetiva garantia de direitos a crianças e adolescentes que vivem uma situação de exclusão social por meio de ações interventivas.
O estudo realizado pretende ainda, a partir das ongs que atuam na área da criança e do adolescente, contribuir para uma maior compreensão do papel dessas organizações em nossa sociedade ou, melhor dizendo, dos papéis, uma vez que, como os tempos em que vivemos, a partir das opções ético-políticas que se faz frente à sociedade, eles podem ser muitos, além de serem certamente complexos e bastante diferenciados uns dos outros.
O fato de se ter tentado reconstruir a trajetória dessas organizações por dentro, isto é, a partir dos profissionais que as fizeram, da mobilização da década de 80 à intervenção da década de 90, pode contribuir também para elucidar as dificuldades existentes no desenvolvimento de ações interventivas junto a crianças e adolescentes que vivem uma situação limite em nossa sociedade, os chamados meninos e meninas de rua.
Explicitar o significado e os impasses das ações desenvolvidas na situação limite vivida por essas crianças e por esses adolescentes pode, na concepção deste estudo, contribuir também para a atuação junto à infância e adolescência de forma mais ampla em nosso país, uma vez que mais do que de rua, estamos falando de meninos e meninas pobres e das implicações da pobreza e da exclusão social nas vidas de seres humanos que se encontram em processo de desenvolvimento.
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