Estudo das possibilidades de subjetivação política na contemporaneidade, tomando as relações de amizade entre jovens como uma situação social onde temas como o público (território de convivência entre os diferentes), o privado (projetos estabelecidos pelo eu), o político (reconhecimento e valorização das diferenças, mas também desafio às relações de subordinação), a ética (respeito às diferenças), o discurso (forma que dispomos para nos apropriar do mundo a que chegamos na condição de estranhos e novos), a ação (o que, ao mesmo tempo, nos iguala e destinge dos demais) e o exercício da crítica (localização dos conflitos inerentes à vida social) podem se atualizar. A pluralidade e a diferença que caracterizam a condição da política no contemporâneo convidam as subjetividades para um reposicionamento diante do outro e do mundo. Implica a elaboração de uma crítica aos princípios da democracia liberal, defensora da razão universal, da unidade e do consenso e uma postura de recusa ao modelo subjetivo que lhe é correlato, pautado no individualismo xenófobo, alérgico à alteridade e antipolítico, pois incentivador da busca, prioritária, de auto-realização na esfera privada. Quebra do monopólio do consenso, da transparência, da identificação, da extrema intimidade em prol da hipertrofia da assimetria, da heterogeneidade e da alteridade. Nessa visada ético-política, a amizade toma a forma de um vínculo, pautado na distância, no "entre", espaço necessário ao desenvolvimento do respeito e da tolerância pelo outro, condições primordiais para o desenvolvimento de uma democracia generosa com a diferença. Vale ressaltar que não se trará de uma pura e simples celebração das diferenças, mas sim do reconhecimento de que certas diferenças são construídas em relações de subordinação e por isso devem ser desafiadas em condições de DEMOCRACIA RADICAL, para fazer referência à proposta política de Chantal Mouffe. Nessa situação democrática, pode-se distinguir entre diferenças que existem, mas que não deveriam existir e diferenças que não existem, mas que deveriam existir. A proposta da amizade ético-política foi vivenciada por jovens através de um trabalho em grupo no formato metodológico de oficina que marca a singularidade de uma pesquisa social-clínica, principalmente por diferencia-la de um tipo de pesquisa que denominamos de "identitária". Na pesquisa social-clínica interessam os "momentos de diferenciação", ou seja, momentos que expressam a constituição de um novo modo de pensar e agir que se gesta no grupo, no encontro com os demais, na atividade narrativa de apreender as diferenças e/ou desigualdades. Ao longo dos encontros da Oficina da Amizade, o exercício de pensar junto sobre como constroem suas relações com o diferente latente (o amigo do qual os jovens buscam eliminar as diferenças e ressaltar as afinidades) e o diferente manifesto (aqueles que representam para os jovens em questão a figura avessa do amigo, aqueles com relação aos quais são indiferentes e julgam como inimigos) conduziu os jovens a uma reconstrução sentimental e afetiva com relação aos que denominavam de "amigos" e aqueles que localizavam como sendo o "oposto do amigo", reinventando os laços sociais de um viver junto.
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