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A cultura da escola profissionalizante e a formação das visões de mundo de trabalhadores

  • Autores: Suzana L. Burnier
  • Localización: A questão social no novo milénio, 2004, pág. 164
  • Idioma: portugués
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  • Resumen
    • O presente trabalho discute os diálogos entre a socialização primária de técnicos de nível médio de diferentes origens sociais e a formação profissional escolar, analisando o impacto dessa nos habitus desses sujeitos. Focalizam-se as experiências vividas pelos investigados numa instituição profissionalizante com forte tradição de "cobrança" com relação aos alunos, demonstrando como o ethos cultivado por essa escola dialoga e interfere nas visões de mundo e projetos desses sujeitos, em sua relação com o saber, com o trabalho e com os grupos sociais dos quais se originam, favorecendo sua metamorfose ora em mediadores culturais, ora em trânsfugas.

      A pesquisa acompanhou, durante 3 anos, 20 egressos de uma escola profissionalizante (aqui chamada de Instituto Tecnológico ou IT), divididos em dois grupos, um deles formado em 1986 e o outro em 1996. São analisados aspectos da cultura dessa escola, como: o lugar social ocupado pela escola, o espaço físico, as relações sociais em seu interior, o trabalho com os conteúdos e o sistema de avaliação e como esse conjunto de práticas e representações repercute na formação desses sujeitos, segundo seu próprio ponto de vista.

      Observa-se que os efeitos da cultura escolar são reelaborados e resignificados pelos alunos, a partir de seu campo de possibilidades. Para o bem e para o mal, nem sempre as intenções educativas concretizam-se tal como esperado. A análise das contradições desse processo nos permite identificar práticas e valores que podem muito concretamente ser apontados como aqueles que favorecem - ou não- o avanço dos processos educativos profissionalizantes para além de uma mera formação técnica, na direção de uma educação tecnológica.

      O texto indica então o processo de construção de uma relação com o saber, pelo aluno, como fruto de uma elaboração complexa em que são integrados saberes de diversas origens. Na escola profissionalizante, centrada na formação para o trabalho, a cultura das classes trabalhadoras faz-se presente, se não de maneira evidente e intencional nos currículos, com certeza na reinterpretação, pelo alunos, dos valores e práticas aí veiculados. Essas reinterpretações podem surpreender, como aquelas que conferem valor positivo a um sistema acadêmico altamente exigente, mas não necessariamente identificado com a formação para o individualismo ou a competição.

      No contexto da modernidade tardia, estar inserido em parâmetros de racionalidade pode significar a fronteira entre a exclusão e a inclusão social. Entretanto, tal competência não dever ser isolada da formação do Sujeito, através da qual se permite a expressão de identidades, subjetividades, idiossincrasias e necessidades.

      Construir e aprimorar processos pedagógicos de formação para o trabalho parece então envolver uma reflexão mais cuidadosa acerca da tensão razão x sujeito, tanto a nível de formulação teórica quanto, principalmente, no caso da educação, de proposição de práticas educativas que integrem ambos os pólos dessa equação.

      No atual contexto dos debates pedagógicos, o artigo pretende dar maior visibilidade ao pólo da tensão entre razão e sujeito referente ao segundo elemento, promovendo uma fina aproximação do universo cultural dos egressos do Instituto Tecnológico, analisando atentamente as teias de significados por eles tecidas e que, caso sejam levadas em conta pelos processos formativos, permitem construir a mediação entre formação técnica, científica, cidadã, cultural e individual, favorecendo a aproximação dos processos de formação profissional dos objetivos históricos de formação omnilateral.


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