Os últimos tempos, férteis em eventos baseados na celebração da partilha da Língua Portuguesa, não podem deixar de nos surpreender, pela crescente importância atribuída à Língua e ao papel que lhe é conferido como "cimento" do chamado "espaço lusófono".
Como refere Léonard, "a década de noventa constitui uma fase de consolidação e de cooperação de onde emerge, não sem dificuldade, o grande projecto de uma comunidade dos países de língua portuguesa" . Seja através da CPLP, da Lusofonia, do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, da RTP África ou de outras iniciativas, a Língua extravasa a área da comunicação, envolvendo relações e interesses sociais, culturais, económicos e políticos.
Não se trata, contudo, de matéria simples, ou neutra - como recorda Eduardo Lourenço: "a língua nunca foi - e continua a não o ser - uma espécie de instrumento neutro que se esgota no seu uso comunicante empírico" . Assim sendo, a partilha da Língua tem sido alvo de aceso debate entre académicos e políticos - para além dos linguistas. Se, por um lado, se entende a Língua Portuguesa como um veículo de cultura que reflecte, a singularidade do caso português (o "encontro entre culturas" que realça o cerne da deambulação dos portugueses no mundo e as "pontes naturais" que ligam Portugal aos restantes países lusófonos ); por outro lado, produzem-se reflexões críticas que denunciam o suposto engodo ideológico que sustenta a ideia de tal excepcionalismo . Segundo Vale de Almeida , por exemplo, a aparente capacidade especial dos portugueses para se "misturarem" com o outro funcionaria exclusivamente num sentido: "de cá para lá", mas não o inverso .
© 2001-2024 Fundación Dialnet · Todos los derechos reservados