Sincretismo, nesta comunicação, é a fusão de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, em um só elemento; é a tendência à unificação de idéias ou de doutrinas diversificadas e, por vezes, até inconciliáveis.
Na época da escravidão, os negros africanos, não podendo praticar livremente seus cultos religiosos, procuravam burlar a vigilância dos senhores brancos, fingindo cultuar santos católicos, quando, na verdade, adoravam deuses nagôs.
Quando se trata da presença de elementos da cultura africana na Literatura Brasileira, imediatamente o nome de Jorge Amado é lembrado, já que sua obra é repleta desses elementos. No Brasil, no entanto, há uma premiada peça de teatro da atualidade literária - "O pagador de promessas", de Dias Gomes - que tem como motivo o sincretismo religioso, ainda comum nas regiões brasileiras, sendo a Igreja do Nosso Senhor do Bonfim (na Bahia) seu símbolo máximo.
Zé-do-Burro, protagonista desse drama e assim chamado porque seu burro Nicolau é seu melhor amigo, promete a Iansã (da mitologia africana) que levará uma enorme cruz de madeira até a Igreja do Bonfim caso Nicolau se cure da grave doença que o vitimou. O "amigo" é curado e Zé-do-Burro carrega a pesada cruz até a Igreja do Bonfim, pois lá existe uma imagem idêntica à da santa que concedeu essa graça (Santa Bárbara, do Catolicismo). Diante da porta da igreja e do seu responsável, o Padre Olavo, Zé-do-Burro vive uma seqüência de acontecimentos que culmina com um final trágico, só porque para aquele homem simplório Iansã e Santa Bárbara são a mesma santa. Afinal, a imagem é a mesma para ambas. Padre Olavo argumenta que Zé-do-Burro fez a promessa para uma santa e está querendo cumpri-la para outra e não permite sua entrada na Igreja do Bonfim. Durante todo o tempo em que tenta cumprir sua promessa, Zé-do-Burro representa as classes populares tentando vencer a intolerância e o domínio das classes poderosas, representadas pelo Padre Olavo. Esta comunicação mostrará que Zé-do-Burro, apesar do seu final trágico, sagra-se vencedor nesse "combate"da mesma maneira que os negros escravos venceram seus senhores brancos através do sincretismo religioso.
A obra "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes, recebeu 07 (sete) prêmios de Teatro, desde sua estréia em 1960 no Teatro Brasileiro de Comédia (mesmo sendo uma tragédia). Essa obra é muldialmente conhecida, porém, na sua versão cinematográfica, dirigida por Anselmo Duarte, que recebeu 09 (nove) prêmios nacionais e internacionais, dentre eles a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1962. Seu autor, Alfredo de Freitas Dias Gomes, destacou-se na Literatura como dramaturgo, escrevendo " A invasão", "O Santo Inquérito", "As primícias" e "O Rei de Ramos" , mas se popularizou como autor de telenovelas e como esposo da "rainha" da teledramaturgia brasileira, Janete Clair. "O bem-amado" e " Roque Santeiro" as telenovelas mais famosas de Dias Gomes. A obra que o imortalizou em nossa Literatura, sem dúvida alguma, é "O Pagador de Promessas", da qual nos utilizaremos para tratar do tema central desta comunicação.
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