Durante mais de dez anos, de 1979 até ao fim da República Democrática Alemã, em 1990, o Governo de Moçambique manteve uma migração de milhares de trabalhadores para a Alemanha de Leste. O principal propósito, embora implícito, desta migração foi o serviço da dívida insustentável contraída com a RDA. Em muitos aspectos esta migração tinha semelhanças com a dos mineiros moçambicanos para a África do Sul durante o período colonial: enquadramento legal e institucional paternalistas, contratação rotativa de jovens solteiros, pagamento diferido de partes dos salários, segregação social e habitacional no país de acolhimento. A implosão da RDA levou a um repatriamento precipitado dos trabalhadores, seguido por um processo de reintegração traumático e por um longo conflito entre os regressados e o Governo moçambicano em torno das transferências dos salários e dos descontos para a segurança social em relação aos quais os regressados se sentem lesados. Para fazerem valer as suas reivindicações, tiram partido das liberdades civis e instituições democráticas recentemente estabelecidas em Moçambique. Este artigo pretende analisar este fenómeno contemporâneo de migração, pouco conhecido, com base em fontes primárias ainda inexploradas, material secundário menos acessível e entrevistas levadas a cabo tanto na Alemanha como em Moçambique. Poderá igualmente contribuir para clarificar alguns dos aspectos mais controversos no conflito em curso
© 2001-2024 Fundación Dialnet · Todos los derechos reservados