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A pobreza urbana e suas multifaces: experiências e significados

  • Autores: A.J. Lima
  • Localización: A questão social no novo milénio, 2004, pág. 213
  • Idioma: portugués
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  • Resumen
    • A comunicação ora apresentada resulta de pesquisa de doutorado, realizada no período de 1994 a 1997, em Teresina-Piauí, no nordeste brasileiro. Tem como campo privilegiado a cidade as populações urbanas. O estudo busca compreender os processos subjetivos pelos quais os pobres constroem suas referências do mundo social em que vivem, colocando em relevo as mediações simbólicas que articulam o modo de pensar sua condição social.

      A motivação para a investigação adveio de duas preocupações: Uma, nasceu de uma instigante indagação: para além das condições objetivas haveria outras formas de explicar a pobreza? Partia-se do suposto de que a pobreza não pode ser explicada apenas como uma condição de vida, mas como uma forma de pensar e de se inserir no mundo, uma forma de se representar como categoria social. Para examiná-la era preciso outra lente, a partir da qual se pudesse elucidar significados, não visíveis, que se expressam na vida cotidiana e nas representações simbólicas desse segmento social.

      Outra era de natureza empírica e residia na idéia de que pensar a pobreza em Teresina exigia um mergulho nos processos urbanos, sobretudo a partir da década de 1980, do século XX, momento em que se viram aprofundados os problemas sociais e se deteriorarem as condições de vida de sua população. O exame da realidade de Teresina, de suas manifestações espaciais e mobilizações populares evidenciou uma forte inflexão físico-territorial e social, caracterizada pela ação de agentes institucionais, por uma reconfiguração do espaço urbano e pela redefinição da pobreza. Nesse contexto emergiu um fenômeno social novo, as ocupações coletivas, novas formas de os pobres habitarem a cidade, que demarcavam uma fronteira com as formas populares de ocupação da década de setenta. Ao mesmo tempo anunciavam também a extensão do drama dos pobres da cidade que se associavam ao drama dos migrantes do campo, que se instalavam, na sua maioria, nas favelas.

      Com base nesse escopo procurou-se refletir sobre as condições de vida, as práticas e as mediações simbólicas com as quais os pobres pensam a pobreza e constroem uma referência de mundo, buscando responder as questões: Quem são os pobres em Teresina? O que dizem sobre esta condição que os expõem a um conjunto de privações e vulnerabilidades e que elementos se apresentam como possibilidade ou não de sair da condição social de pobreza? A pesquisa examinou duas experiências: uma favela localizada em bairro de alto padrão de renda; outra, situada numa região de forte concentração de segmentos pobres da população. Metodologicamente, foram definidas como principais vias de acesso à investigação, o espaço local e a família, entendendo que são esses os eixos norteadores das referências de pertencimento na formação da identidade dos pobres.

      Os resultados trouxeram, para o primeiro plano, a imagem de pessoas que vivem em incessante luta cotidiana, buscando retomar trajetórias, retecendo relações e vínculos, e reconstruindo sonhos de uma vida que pensam como "decente", rompendo com o contingente que os torna desiguais pela excludência e diferentes por pertencerem a um segmento que é (e se sente) estigmatizado socialmente. Evidenciou ainda um forte traço que atravessa as trajetórias desses sujeitos no campo e na cidade - a itinerância. O nomadismo urbano que caracteriza a vida de grande parte dos moradores das favelas apresenta-se como uma etapa de sucessivas mudanças já ocorridas no meio rural.

      Pode-se notar que, no conjunto das representações formuladas, são as experiências vividas em relação à família, ao trabalho e à sociabilidade local que constituem o amálgama da identidade social, pois aí se encontram as referências que permitem a interação com seus iguais, os pobres, e com os não iguais, os ricos. A representação que elaboram de si e de sua presença no mundo está imbricada com a própria imagem que produzem sobre a importância da família em suas vidas. O trabalho constitui-se a possibilidade desse reconhecimento do pobre no espaço público que, uma vez conquistado, reforça a imagem e os valores que ordenam a vida no mundo privado. Além dos valores morais que tomam como positividade em suas vidas, os valores religiosos sedimentam esse núcleo comum, que os leva a viver as privações com resignação, como forma de sobrevivência. É se apegando às crenças que suportam e enfrentam as circunstâncias adversas, mas também esperam um futuro diferente, mesmo que seja usufruído apenas pelos filhos. Essas pessoas ancoram-se nas sociabilidades locais, mas lutam pelo engajamento na sociedade, pois querem "mudar de vida". Supõe a conquista de cidadania, a construção de um lugar de pertencimento no espaço público, de onde possam ter reconhecidas suas necessidades como legítimas, espaço em que as diferenças sejam medida de respeito às subjetividades, à heterogeneidades e não de discriminação.


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