Este trabalho é uma etapa de um projeto maior que tem por objetivo o estudo de ocupações em tecnologias da informação e comunicação na sociedade brasileira, a partir da análise dos microdados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios do ano de (IBGE/PNAD-2001). Nesta etapa do projeto focaliza-se algumas categorias ocupacionais específicas: um grupo de ocupações tipicamente associado à chamada sociedade da informação, e que se destaca pelo uso intensivo da tecnologia digital, cotejando-o com outro grupo de categorias ocupacionais mais tradicionais, mas ainda dentro da área de informação e comunicação. As análises buscam características gerais dessas ocupações, como sua presença nas várias regiões do país, sua base educacional, seu perfil etário e de gênero. Enfatiza-se também as condições de trabalho, com destaque para a posição na hierarquia ocupacional e para a prevalência de tipos específicos de relações de trabalho como, por exemplo, a informalidade.
A importância de tomar como tema as ocupações em tecnologia de informação e comunicação (TIC) vincula-se, obviamente, ao papel que estas desempenham na sociedade atual, a qual tem recebido várias denominações - Sociedade da Informação, Sociedade do Conhecimento, Sociedade em Rede, etc. - que buscam fazer referência a importância da informação e da comunicação para o desenvolvimento socioeconomico, num ambiente de crescentemente globalizado e no qual se impõem novos paradigmas produtivos.
Aborda-se, neste trabalho algumas controvérsias, mencionadas na literatura, a respeito da introdução de novas TICS. Embora bastante valorizadas e consideradas indispensáveis, as tecnologias de informação, assim como as profissões a elas atreladas, também têm sido associadas ao incremento diversos tipos de desigualdades que parecem acompanhar a sua disseminação: desigualdade entre países, desigualdade entre segmentos sociais, desigualdade de gênero. Segundo alguns autores a dinâmica da inovação tecnológica, apoiada nas TICS, tenderia a se manter centrada nos países mais desenvolvidos. Além disso, os efeitos dessas inovações atingiriam regiões e grupos sociais de forma diferenciada com perigo de manutenção das desigualdades sociais. A situação dos gêneros nas profissões em TICS também tem sido destacada por vários analistas. Embora haja indícios de que as mulheres estejam sendo absorvidas por esses novos segmentos ocupacionais, estas parecem tender a desempenhar tarefas menos valorizadas, ou menos tecnologicamente avançadas, assim como a ter menos oportunidades atingir posições vantajosas no desempenho de suas funções. Este problema ocorre nos países desenvolvidos, sendo abordado em alguns estudos e em programas que visam à ação social voltada para a promoção da presença das mulheres nas ocupações em TICS. Mas é nos países em desenvolvimento que o tema se torna mais premente, pois o equilíbrio de gênero no mercado de trabalho tem sido considerado um ingrediente fundamental ao processo de desenvolvimento socioeconômico, um aspecto tão destacado quanto a introdução das novas tecnologias de informação e comunicação.
As evidências disponíveis, atualmente, sobre as características das ocupações em TICS no Brasil, e sobre o acesso das mulheres a essas ocupações, são baseadas em levantamentos realizados dentro de determinadas categorias profissionais ou em estudos qualitativos. Este trabalho pretende contribuir para o estudo do tema utilizando dados de uma amostra representativa da população brasileira. Espera-se, assim, gerar informações que podem ser utilizadas como indicadores de desenvolvimento em TICS e das perspectivas nacionais na área de TIC. Os dados obtidos também poderão servir para subsidiar políticas de governo no setor mas, sobretudo, suscitar novas questões de estudo.
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