Bartira Brandão Bastos, Lídia Oliveira
O objectivo do presente trabalho é analisar a representação que a Comunidade Científica do Nordeste Brasileiro tem da rede - Internet, como meio facilitador de sua internacionalização, facilitando a difusão do conhecimento gerado, provendo-lhe uma visibilidade universal e igualitária frente à Comunidade Científica Mundial.
Desde o advento da Internet surgiu a ideia de que, sendo um espaço libertário, com sua característica de rede, sem um gerenciamento central, seria este espaço o espaço público mediático desejado por cientistas para atingir um ideal universal e igualitário, onde eles poderiam ver e serem vistos, ler e serem lidos. Este espaço seria o espaço para a exposição do discurso de cada um perante os outros como uma Ágora virtual, servindo também para a produção, difusão de conhecimentos, facilitando a coordenação e cooperação de equipas de investigação. Mais que uma simples ferramenta encarou-se a rede com instrumento que potencialmente recria e amplifica a relação entre ciência, tecnologia e sociedade, que dilui as diferenças regionais no acesso e difusão de informação, renova os hábitos de trabalho cooperativo alterando o próprio conceito de grupo que se torna globalmente distribuído, enfim, gerando implicações na inter-subjectividade do cientista no que tange ao ciclo de vida da produção de conhecimento (apropriação, processamento, geração, difusão e discussão) e nas estruturas sociais de organização do trabalho científico, gerando-se novas solidariedades, novos mecanismos de participação, novas formas de democracia, de negociação, de decisão, de cooperação, de sociabilidade que potenciam a emergência de sujeitos colectivos ou de inteligências colectivas conectivas. A Internet representa de um lado um território simbólico abrangente associado à ideia de globalidade, onde se promove a diluição das fronteiras geográficas, enquanto que de outro lado a possibilidade da rede representar territórios individuais e /ou privados, quer a nível grupal, quer pessoal.
Reflectindo sobre o quotidiano da rede, fica claro porém, que, dentro deste mar de informações, onde não existe mais o impacto das barreiras geográficas, emergem novas barreiras que recriam territórios claramente definidos, provocando assim o surgimento de um novo status de exclusão, que reflecte o sistema social actual e seus excluídos. Observa-se a repetição das estruturas hierárquicas encontradas na Comunidade Científica central, com a existência de Comunidades Científicas que, mesmo nesta nova socio-média, continuam à margem do sistema mundial científico, reforçando seu estado periférico.
Verifica-se que, se em princípio, não existem maiores problemas nas publicações de conteúdo na rede, qualquer cientista, de qualquer lugar do mundo, a qualquer momento, pode publicar seus trabalhos, a posteriori, reproduzindo as leis da comunidade científica tradicional, o real reconhecimento do que é publicado e muitas vezes até mesmo o seu acesso, continuam condicionados a uma série de critérios que, mesmo nesta socio-média, são excludentes, transformando-se em filtros que reproduzem a actual marginalização do sistema científico periférico.
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa social, de campo, onde foi utilizado como instrumento um questionário misto aplicado aos pesquisadores. Os dados obtidos através da aplicação do instrumento de pesquisa aqui destacado serviu de subsídio para analisar o uso e a representação da Internet como meio facilitador (ou não) da inclusão da Comunidade Científica do Nordeste Brasileiro junto da Comunidade Científica Mundial.
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