O presente texto pretende discutir o papel dos jornalistas no âmbito da divulgação de notícias na cobertura de conflitos. Para tanto, são discutidas algumas questões como ética e meios de comunicação na sociedade de informação e o papel da imprensa internacional na divulgação desse material. Em casos dessa natureza, jornalistas e repórteres fotográficos lidam com fatos extremamente complexos, na busca de reportagens e imagens, deslocando-se para áreas de conflito nos seus mais diversos contextos, tais como campos de refugiados, guerras, regiões atingidas por catástrofes naturais - terremotos, deslizamentos, enchentes, momentos nos quais ficam expostos a todo tipo de pressão: violência, morte, intolerância, stress, pressão do trabalho, das agências, ao caos que normalmente circunda esse tipo de situação.
Na sociedade de informação, onde imagens simples já não emocionam as pessoas, que procuram cada vez mais imagens complexas, de impacto e com efeitos, o jornalista - editores, repórteres, fotógrafos - são cobrados a tratar a imagem e o texto de forma cada vez mais fantástica, mas ao mesmo tempo a sociedade informacional cobra que as mesmas estejam recobertas pelo véu da ética: "a questão não está ma imagem em si, mas na relação subjetiva do espectador com ela" Lage, 1995, p. 42.
As novas tecnologias de informação, tão características da sociedade informacional, permitem não só maior fluidez das informações, estreitando os espaços e o tempo onde circulam, como também a disseminação do impacto e das reações causados pelas informações, mas não estão livres da mediação ética do que deve ou não ser liberado para o público. A sociedade em rede, para usar a terminologia de Castells (1999), permite que a escolha de um olhar seja apreciado e discutido por diversas culturas diferentes a um tempo cada menor. A distinção que se deve fazer entre o "domínio ético, ao sistema de valores que tem curso na sociedade global e em cada uma de suas instituições, e o domínio da moral, que diz respeito ao regimento normativo que regula os comportamentos e os discursos concretos" (Rodrigues, 1995), permite uma regularização no nível de distribuição das informações.
Le Pape, ao escrever ao escrever sobre o papel dos jornalistas em Ruanda, por ocasião do genocídio ocorrido em 1994, afirma que "o leitor não conhece bem as circunstâncias práticas nas quais se fazem as reportagens, podendo reconstituí-las parcialmente: quando são acolhidos pelos militares; quando se deslocam em grupos e comboios, a maior parte interroga os mesmos informantes, as mesmas testemunhas, descrevem os mesmos percursos. Diz-se também que observar os militares faz parte do trabalho desses jornalistas, que podem então ver nisso os riscos de se deslocar sem proteção. Ao ler os relatos de jornalistas sobre as condições de seu trabalho em Ruanda, percebe-se a característica inevitável das relações entre exército (missão da ONU, forças francesas) e repórteres. Não é inútil conhecer em geral o contexto das reportagens, ele nos lembra primeiro que a pesquisa de informações é uma pesquisa e que esta pesquisa está permeada por pressões, obstáculos, riscos. Isso é evidente, mas pode-se fazer uma leitura mais detalhada dos jornais, mais práticas, quando se tem em mente essas pressões" Le Pape, 1995, p. 43.
São momentos em que, mesmo frente a todo sorte de violência generalizada, quando os valores fundamentais do homem deixam de existir, que os jornalistas devem se sujeitar à arbitrariedade da razão, à racionalidade da objetiva da câmera ou à clareza do texto jornalístico.
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