Um importante lingüista nos colocou em um congresso o seguinte desafio: ao invés de analisarmos o texto pelo texto, ou o discurso pelo discurso, talvez seria a hora de prestarmos atenção às formas como nos relacionamos com os discursos produzidos na nossa sociedade. Dessa forma, o discurso, mais do que um lugar no qual podemos analisar a relação entre língua e ideologia, deve ser visto como uma prática, uma forma de agir socialmente, uma forma de ação no mundo. É a esse desafio que essa comunicação pretende responder ao falar sobre identidade e minorias. Para isso, teremos que falar sobre sujeito, discurso, construção de identidades/ alteridades, exclusão e discriminação e, essas questões, cada uma sozinha, dão margem a várias comunicações e, mesmo assim, não se esgotaria as possíveis respostas. Mas a quais perguntas essas respostas remetem? Nessa comunicação, pretendemos analisar alguns elementos relativos à problemática da identidade na pós-modernidade, objetivando tecer algumas considerações ao fato de como o discurso humorístico e midiático podem nos ajudar a analisar a relação que a identidade tem com a questão hoje amplamente discutida das minorias, em nosso caso, da minoria negra. Além disso, constitui também nosso objetivo analisar como esses discursos/práticas discriminatórias e excludentes "apenas" são reflexos das discussões no século XIX e meados do século XX, a respeito da superioridade/inferioridade das raças e, obviamente, da unânime visão da raça negra como sendo inferior às outras. Algumas perguntas que nos fazemos e que tentaremos responder são as seguintes: Quais os discursos que ficam implícitos quando contamos piadas sobre negros? Quem é esse sujeito que conta a piada? Quem é o sujeito que é retratado? O "novo" espaço que o negro adquiriu na mídia brasileira, de papel de escravo ou serviçal em novelas a garoto propaganda de objetos de perfumaria, é um reconhecimento de seu valor ou uma perpetuação do discurso discriminatório presente no humor, uma vez que a necessidade de um desodorante para os negros se dá porque este "precisa de uma dupla proteção"? Em que medida há a reprodução das discussões sobre raça e etnia ocorridas nos séculos XIX e XX? Na tentativa de responder a estas perguntas, analisamos piadas e propagandas que retratam esse "tipo social", que de tão estereotipado em nossa sociedade brasileira, possui uma imagem, negativa em sua maioria, cristalizada em nossas práticas. No discurso midiático, que tem por característica/objetivo seduzir o seu expectador, persuadi-lo para que obtenha o produto que se quer vender, esperávamos não ver, ao menos não na sua superfície, a perpetuação do discurso discriminatório em relação aos negros. Já no discurso humorístico, as freqüentes associações entre o negro e o macaco, entre o negro e a inferioridade intelectual, entre o negro e a "superioridade" sexual deformada e anormal expõem de forma mais crua, embora sob o julgo de ser "uma piada", este discurso que transforma a diferença do negro em discriminação, desigualdade e exclusão. Percebemos, através das análises, que se quisermos pensar na constituição de um sujeito que considere o Outro e não o veja através de simulacros, teremos que construir um "tempo de subjetividade", que só poderá se dar se pensarmos numa alteridade que seja construída/constituída por meio da ética.
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