D. R. Silva, E.M. Hungaro, J.L. Solazzi
O presente artigo é parte constitutiva de um estudo que vimos realizando junto ao Observatório de Políticas Sociais de Esporte, Lazer e Educação Física do Grande ABC. Nesse estudo, pretendemos explicitar os fundamentos sócio-históricos que constituem a especificidade de alguns aspectos da cultura corporal do brasileiro. Para isso vimos estudando a formação sócio-histórico-cultural do povo brasileiro e alguns resultados já foram obtidos. Muito embora pretendamos, em nosso estudo, dar conta das especificidades da cultura corporal do povo brasileiro, nossos primeiros resultados têm nos apontado as similitudes de nosso povo com a cultura corporal européia, principalmente no que tange a formação histórica dessa cultura.
Os resultados, que ora apresentamos, foram obtidos por meio de uma pesquisa de revisão bibliográfica em que foram estudados os processos de formação sócio-econômica do Brasil e como se estes influenciaram as expressões corporais de movimento do povo brasileiro. Tal estudo é impossível de ser feito sem a remissão a como se deram os mesmos processos no continente europeu. Ao que parece, o processo de consolidação do capitalismo brasileiro determinou muitos aspectos da cultura corporal do povo brasileiro. O que passa é que o mesmo já havia sido no território europeu e uma série de determinações lá ocorridas, quanto à constituição da cultura corporal, acabaram, também, realizando-se no território brasileiro.
Resultados Preliminares: Todo aquele que pretende dar conta do entendimento da maneira de um povo se expressar corporalmente necessita fazer um estudo detalhado sobre como se deu o processo de construção desse povo. Assim, não há como entender a forma de expressão corporal do brasileiro sem entender os determinantes históricos, sociais e culturais que a influenciaram. Considerando o surgimento do capitalismo no século XVIII na Europa e posteriormente no século XX no Brasil, o presente artigo buscou pesquisar as similaridades existentes entre estas respectivas sociedades capitalistas no que diz respeito à consolidação do sistema econômico, à atuação política da burguesia e ao caráter biológico que fundamentou a compreensão de homem nesse processo. Tal caráter não entendia o homem como um ser social, mas sim como ser natural.
Percebeu-se que, tanto na Europa quanto no Brasil, algumas formas de expressão corporal foram privilegiadas em virtude dos interesses da burguesia: entre alas, principalmente a ginástica. Com a generalização destas práticas corporais se objetivava, fundamentalmente, a preparação de mão de obra para o trabalho industrial, o controle das epidemias que já ameaçavam a família burguesa e a generalização da visão positivista de ciência.
Diante dos resultados, o artigo concluiu que existe uma similitude entre a formação da cultura corporal européia e a brasileira que está diretamente ligada com o processo de consolidação do capitalismo e da burguesia no poder. Logicamente as respectivas sociedades apresentam culturas diferentes entre si por uma questão histórica, mas, se nos atermos ao processo de consolidação da sociedade em que vivemos, pensando um homem que vive num determinado sistema econômico e político, enraizado na lógica produtiva e ideológica, tais sociedades, apesar de suas especificidades, apresentam similitudes em suas bases históricas e, portanto, nas expressões corporais de seus povos nas quais é possível se identificar um elemento central e absolutamente funcional ao modo de produção capitalista: a dicotomização a que os homens são submetidos que faz com que estes não se percebam como seres históricos, como corpos.
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