As transformações nas famílias brasileiras tem sido profundas e intensas. As separações conjugais, cuja incidência maior no mundo ocidental as retiram da condição de exceção para colocá-las como ocorrência banal na trajetória dos casamentos contemporâneos, vêm sendo responsáveis pela emergência de uma mutação familiar de transcendental importância neste ocaso do segundo milênio. Ao analisar conjugalidade, família e afeto, no seio de famílias reconstruídas de camadas médias urbanas, na cidade de Natal (Nordeste do Brasil,) destacam-se as seguintes características que configuraram essa "reconstrução": autoridade e poder; tarefas e atribuições masculinas e femininas decorrentes da divisão sexual do trabalho, dentro e fora de casa; direitos e deveres específicos; tipo de vínculo afetivo entre os cônjuges, entre esses e a prole, e as mudanças nas formas familiares, papéis e valores que ordenam a vida privada nas famílias. Averiguamos que o fato das mulheres terem se tornadas provedoras e parceiras importantes na formação do orçamento familiar, lhes confere nova posição na estrutura doméstica e altera os vínculos que as une aos maridos e filhos. Analisamos, também, a participação feminina no redimensionamento da divisão sexual do trabalho, ou seja se parte dos afazeres domésticos são redistribuídos entre esposas e maridos e, ainda, se o acréscimo de novos atributos a condição feminina, contribui para a introdução de formas alternativas de relações entre homens e mulheres dentro e fora da família, com alteração de papéis hierárquicos. Na pesquisa de cunho qualitativo realizada em 2003, efetivamos entrevistas qualitativas, semi-estruturadas, com dez pessoas, ate as respostas indicarem a saturação qualitativa. Ao todo, seis mulheres e quatro homens, todos pertencentes a casamentos diferentes entre si, ou seja, nenhum entrevistado(a) são cônjuges respectivamente, e todos(as) advindos de casamentos anteriores, estando em uma nova reconstituição familiar. Na análise dos resultados dessa pesquisa, evidenciam-se novos valores gestados nas famílias, na direção de um conteúdo mais igualitarista dos papéis sexuais, tais como: às novas atribuições do gênero feminino e masculino; aos conteúdos normativos que reordenam a sexualidade, aos estilos de vida familiar inventados e reinventados a cada dia. Se o fenômeno das famílias reconstruídas não é propriamente novidade na história da instituição familiar, passa a sê-lo quando consideramos as peculiaridades dessas novas estruturas familiares e a abrangência do fenômeno em sua inserção sociocultural. Essas famílias reconstituídas trazem uma nova realidade vivencial e o estabelecimento de vínculos que não estão prefigurados na família tradicional, seja ela nuclear, extensa ou abrangente, no Brasil.
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