A exclamação que serve de título à proposta de comunicação foi dita por Lília, mulher de 28 anos, casada, mãe de dois filhos, (auto)excluída da escola aos 12 anos de idade, desempregada de uma fábrica onde trabalhava oito horas diárias em que mecanicamente dobrava turcos para serem enviados para exportação.
A Lília integra um grupo de vinte formandas que têm em comum o facto de serem mulheres, com abandono precoce da escola, desempregadas, discriminadas socialmente (nesta localidade não há desemprego masculino, enquanto que o desemprego feminino tem vindo a aumentar), num processo de reconstrução das representações sobre a escola entendendo-a como possibilitadora da aquisição de novo estatuto sócio-económico.
O pasmo que Lília manifesta pela descoberta de capacidades que julgava não possuir é reveladora dos 'efeitos' promovidos pela frequência do curso de educação e formação de adultos, coordenado por uma associação de desenvolvimento local. A aposta conjunta desta associação e da EFA - Educação e Formação de Adultos - na promoção da emancipação de públicos excluídos, levou-nos a reflectir nas expectativas, nos processos e nos compromissos sociais que se assumem ao pôr-se em movimento uma acção desta natureza.
No presente trabalho pretende-se apresentar a síntese de uma avaliação externa sobre um curso de auxiliar de acção educativa, para mulheres desempregadas, centrando-nos no segundo dos dois objectivos que delineamos:
1 - Analisar a adequação e a pertinência da formação para o seu objecto central, ou seja, a de preparação como auxiliares de acção educativa;
2- Analisar de que forma a realização deste curso é percepcionado pelas formandas como significativo no seu desenvolvimento pessoal enquanto pessoas adultas;
A investigação é feita na base de uma metodologia compreensiva, com recurso à observação participante e a entrevistas de teor biográfico, de forma a podermos aceder a informações sobre as possibilidades de participação das formandas na realização do curso e da integração da formação oferecida com as necessidades e expectativas das formandas, partindo do princípio da imprescindibilidade da acção própria para a construção da autonomia reflexiva.
Ao longo do processo tornou-se evidente que as principais aprendizagens destas mulheres se centram em si próprias, numa descoberta quase diária de competências que não sabiam possuir. A sua participação na construção do seu empowerment, ou seja, na consciencialização de que possuem poder para inverter o seu trajecto de vida, cria-lhes novas expectativas que têm que ser jogadas no todo social a que pertencem, e aí coloca-se de novo o problema: expectativas que não se cumprem não serão geradoras de novas formas de (auto)exclusão?
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