Em 1885 Artur Azevedo inaugurou no Diário de Notícias, no Rio de Janeiro, a seção “De palanque”, propondo-se a comentar sobre arte, cultura e assuntos genéricos. Num momento em que os “gêneros alegres” dispunham de grande prestígio entre a população fluminense, havendo, portanto, entre os homens de letras um pensamento comum acerca da “degeneração” da dramaturgia nacional, nas crônicas dessa seção o crítico comenta recorrentemente sobre a presença das prostitutas nos teatros da Corte. Na percepção do jornalista, as casas de espetáculo, que tradicionalmente funcionavam como espaço de entretimento para as melhores famílias da sociedade fluminense, tornavam-se lugares propícios ao “comércio do prazer”. Assim, além da “decadência” na arte dramática, havia uma decadência moral, que encontrava nas putas suas principais agentes. Importa considerar ainda que o descontentamento de Artur relativamente às mulheres de “beijo fácil” estendia-se também à presença delas em outros espaços de convívio social. Levando-se em consideração o contexto em que vivia o cronista – um período fortemente marcado pela preocupação e necessidade de controle do meretrício – pode-se dizer que em seus textos havia algo de “sanitarista” e, neste sentido, serviam como instrumento de divulgação das ideias defendidas nas teses da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
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