A evocação nostálgica da mãe preta (liberada no Modernismo do rótulo de agente de contaminação) revela algumas das contradições do gesto legitimador das culturas e sujeitos afro-brasileiros e mestiços no início do século XX. No caso específico da mãe preta, constata-se a construção de um “outro” racial mitificado; ou seja, as marcas sociais e raciaismarginalizadoras da mãe preta são atenuadas para que essa figura possa exemplificar a narrativa utópica da harmonia inter-racial do velho sistema agrário-patriarcal brasileiro. Além disso, a transformação da mãe preta em símbolo de assimilação racial reforça os estereótipos burgueses da servidão negra, e comprova a indiferença dos intelectuais e escritores modernistas às lutas políticas das próprias domésticas contra a discriminaçãoracial e social – políticas tais que comprometem a defesa destes intelectuais do mito da democracia racial brasileira.
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