Este trabalho analisa a temática da ação participativa no âmbito da cultura cívica. O objeto empírico eleito para o estudo é o processo histórico de criação e consolidação das quatro universidades estaduais da Bahia (UNEB, UEFS, UESC e UESB) a partir da década de 60, como expressão de setores da sociedade civil, em diversas regiões, pela conquista do direito à educação universitária. O pressuposto mais geral orientador do trabalho é de que o desenvolvimento de uma sociedade depende de que os indivíduos se orientem coletivamente em torno de princípios e valores, expressos a partir da formação das identidades coletivas, com vistas a alcançar direitos e condições de reprodução de vida, favorecendo, assim, o desenvolvimento de uma vida sociopolítica democrática. Esse tipo de ação se contrapõe à tradição brasileira em que a emergência de uma cultura cívica pluralista tem sido dificultada por uma sociedade elitista e segmentada em torno de desigualdades diversas, seja no acesso às agências públicas, seja com relação à própria integridade do cidadão (fome, segurança, saneamento, infraestrutura urbana e rural, etc.), seja pelo não reconhecimento dessas desigualdades que inferiorizam e também das diferenças. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que englobou o levantamento e a análise de conteúdo de informações oriundas de entrevistas com os atores que protagonizaram tal empreendimento, bem como de documentos. O estudo revela a visão que esses indivíduos têm desse processo e como avaliam a universidade que ajudaram a edificar, produto do seu protagonismo. No caso das quatro universidades baianas, que apresentam perfis e processos históricos diferenciados, a criação remonta à trajetória nacional de incentivo à formação de professores para o ensino médio e de profissionais para a indústria crescente, trajetória essa iniciada na década de 50 e consolidada nas décadas seguintes. No bojo do período desenvolvimentista, ganhou impulso o processo de luta por um reconhecimento das demandas regionais por educação, com vistas à inclusão cultural, por parte dos pioneiros dessa iniciativa nas várias regiões da Bahia. São intelectuais, educadores, políticos, líderes comunitários e religiosos que constituíram um movimento irradiador do desenvolvimento a partir da universidade.
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