Considerando o contexto de implementação de políticas de Ações Afirmativas para o ingresso no ensino superior, neste estudo, por meio de entrevistas de relatos de vida, analiso itinerários sociais de estudantes oriundos de famílias consideradas de classes populares e ingressantes em curso superior mediante programa de bolsas ou de reserva de cotas. Muitos autores, no Brasil, já produziram pesquisas relativas ao acesso a este nível de ensino por estudantes de classes populares. No entanto, o fizeram, na maior parte dos casos, em contexto anterior ao deste estudo. Demonstraram, sobretudo, a importância das configurações familiares para os itinerários considerados por eles de "longevidade" ou "sucesso escolar". Sem desconsiderar os significados das experiências construídas nas redes de relações circunscritas às famílias, neste estudo busco ampliar o debate, demonstrando que embora a escolarização seja concebida pelos familiares desses estudantes como prioritária, o projeto de ingresso no curso superior é construído de forma não naturalizada, efetivando-se, na maior parte dos casos, no processo de socialização secundária, através da interação com agentes mediadores, posicionados em quadros institucionais que ultrapassam os limites das redes de relações da família nuclear. A interação com agentes de mediação do Prouni, dos programas de reserva de vagas e dos cursos do tipo Pré-vestibular para Negros e Carentes apresenta-se como fundamental à objetivação do projeto de ingresso em curso de nível superior.
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