A considerar que coube a Immanuel Kant lançar as bases da ética moderna, de natureza laica e secular, sem que o imperativo moral venha a se apoiar na heteronomia, no século XX, a atenção voltada para a obra de Sade abre um novo caminho de interpretação do filósofo alemão. Seja como realização perversa do Esclarecimento – segundo compreende Theodor Adorno – seja nele vendo o complemento do que em Kant parece estar ausente – essa a leitura de Jacques Lacan –, ou, ainda, como o anverso da ética da autonomia – ponto de vista defendido por Slavoj Zizek; o polêmico escritor francês entra em cena como forma de esclarecer os fios que tecem o domínio do ético na atualidade. Kant se completaria com Sade, parceiros ideais, não como propostas éticas distintas e opostas, sobretudo como dois pontos de vista sobre a mesma ética da liberdade absoluta que inaugura o moderno. Refletir sobre essa perspectiva é a intenção do presente estudo, com a hipótese de que o moderno se constitui num movimento bipolar entre Kant e Sade, os quais, em vez de oposições radicais, avizinham-se como verso e anverso da ética moderna.
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