Esta incursão por Selva Trágica (1959), romance do escritor paulista Hernâni Donato (1922 – 2012), procura deslindar alguns aspectos temáticos e formais do enredo, que prima por particular arranjo literário evocando índices e elementos da tradição literária clássica e antiga e do respectivo universo sócio-cultural, todos anteriores à forma do romance burguês. Como parte do jogo analítico, acatam-se as explícitas e implícitas indicações que transcorrem pela obra. Ressalta-se, entretanto, o caráter de deslocamento e de anacronia produzidos, bem como a impossibilidade da realização da forma e da temática evocadas, no gênero moderno. Tal procedimento na ficção de Donato deixa de ser sutil e insurge-se pleno de significação irônica. O mote do recorte parte de termos, como “épico”, “epopeia”, “gesta”, inscritos na abertura do livro, e segue por outros índices relativos a trocas de experiências e constituição da sabedoria. Com isso, aponta-se para uma leitura e interpretação da obra a partir da tomada desses indicadores. A base de fundamentação teórica é a discussão suscitada por Walter Benjamin, em seu texto acerca do narrador, em que trata de questões dessa ordem.
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