Renata Santos de Morales, Noeli Reck Maggi, Juliana Figueiró Ramiro
A autora sul-africana Bessie Head, em sua obra A Question of Power, apresenta a problemática de um sujeito do sexo feminino fruto da sociedade sul-africana em épocas de Apartheid. Na narrativa, a personagem principal, Elizabeth, oferece uma visão retrospectiva de sua “jornada para o inferno”, desde a África do Sul até seu exílio no vilarejo de Motabeng — a terra de areia de Botswana. Nessa caminhada, a personagem depara-se com um processo de desintegração e reconstrução da sua identidade, que a leva a descobrir sua própria totalidade. O texto proporciona ao leitor a experiência da jornada interior de Elizabeth, marcada pela discriminação, pelo isolamento e por conflitos culturais. O presente artigo tem como objetivo refletir, a partir da análise de trechos da narrativa de Head, sobre a condição de migrante, mulher e mestiça da personagem, as relações de poder e a alteridade que condicionam sua existência como exilada, e o modo como essa condição perpassa seu processo de (re)identificação pessoal. A análise é feita com base na teoria foucaultiana, no que toca às questões de alteridade e relações de poder. Utiliza-se como instrumento metodológico a Estrutura Simbólica do Poder, proposta pelo semioticista Harry Pross, que diz da forma pela qual os indivíduos atribuem sentido às suas experiências e vivenciam a alteridade. O estudo proposto justifica-se pela necessidade de refletir sobre questões de gênero e raça, oportunizadas pela obra escolhida como objeto, entendendo que elas ainda hoje vitimam e inferiorizam sujeitos no mundo inteiro. Como resultado desta pesquisa, tem-se a apresentação de um olhar crítico sobre a forma como a Estrutura é orquestrada a serviço do poder, gerando e, na maioria das vezes, reafirmando sentidos.
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