Meu diálogo apaixonado com a literatura brasileira começou com um pe queno livro encontrado por casualidade numa biblioteca de minha cida de, não muito aberta a experiências intelectuais transoceânicas, num frio dezembro siciliano de 1988. O livro era Miguilim, numa esplêndida tradução de Eduardo Bizzarri, o tradutor "oficial" da obra rosiana na Itália, com prefácio do reconhecido e sensível autor Antonio Tabucchi. Desde aquele ano, uma frase de Tabucchi me suscitou atenção, inquietude, fascinação: "Miguilim está agora em seu cavalo, está partindo, e olha ao entorno. Agora vê o real em seus mais minu ciosos contornos. Submerso, de improviso, no Agora, o Miguilim afastado do oco do tempo, olha. Mas o que é aquele olhar e o que significa?" Curioso, iniciei a leitura das obras que achava nas livrarias, pergun tando, com olhos inquisidores -como os do pequeno Miguilim -se conheciam e se tinham um autor brasileiro com nome de atriz do neorealismo italiano... Entrei, assim, no Sertão. Uma frase de Grande sertão: veredas funcionou como introdução à viagem pelo sertão e pelo universo de Guimarães Rosa: "Vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas" (ROSA, 1958, p. 389-390).
© 2001-2025 Fundación Dialnet · Todos los derechos reservados