O leitor de Dom Casmurro é capturado pelos efeitos de visualidade que o texto instala, mas, simultaneamente, é solicitado a manter o necessário distanciamento crítico para avaliar esse envolvimento sensorial, que resulta das escolhas formais do autor. O processo enunciativo do texto - ora constituído sob o ângulo de Dom Casmurro, ora de Bento Santiago - manifesta-se por um duplo processo de ocularização, sendo possível afirmar que a recorrência ao olhar deixa de ter uma função meramente descritiva para ser responsável pela organização das significações da narrativa. O ato perceptivo do olhar atua na estruturação das personagens, contribui para a natureza mimética do relato, sendo, igualmente, responsável pela concepção epistemológica do texto. Conseqüentemente, a metáfora "olhos de ressaca" recobre a força avassaladora do amor e do ciúme e a da própria narrativa que arrasta o leitor para seu centro, enquanto desvela o processo de produção e de recepção da obra.
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