Nas narrativas distópicas The handmaid’s tale de Margaret Atwood, e em The children of men de P.D. James há um desprezo pela vida daqueles que transgridam as regras draconianas dentro daquele contexto autoritário e catastrófico. Em ambos os enredos, há o tema da infertilidade em escala global. Apesar do risco iminente à humanidade, justamente no momento que cada vida devia ser mais valorizada devido à ameaça de extinção, seu valor intrínseco é esvaziado, uma vez que a vida se torna um objeto político. A vida de cada um, indispensável para a sobrevivência de todos, se torna refém das elites dirigentes, que desejam assegurar seu poder. E através desses mecanismos, é a vida das mulheres que perde seu valor mais rapidamente, seus corpos são passivos de controle estatal. A partir do conceito de necropolítica de Mbembe, que argumenta que a política é um trabalho de morte e a soberania é o direito de matar (MBEMBE, 2011, p. 21), e do posicionamento de Bordieu, que afirma que o Estado ratifica e reforça as prescrições e proscrições do patriarcado privado com as de um patriarcado público, pretendemos analisar como vida e morte se tornam mecanismos para legitimar a necropolítica nos contextos desses distopias.
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