Neste artigo pretende-se fazer uma exposição do diálogo entre os registros imagético e narrativo no âmbito da cultura indiana mediante breve estudo da peca Uttararāmacaritam "O último feito de Rāma", de Bhavabhūti (séc. VIII d.C.). Particularmente intrigante em termos de sua carpintaria - quase evocando uma construção en abîme -, a peca coloca em cena os episódios finais do poema epico Rāmāyana, quais sejam as circunstâncias ligadas ao banimento de Sītā, grávida, esposa de Rāma, e ao encontro com seus dois filhos, ainda desconhecidos dele. O que toma interessante a dramatização dessa situação e que seu autor recorreu a registros variados de representação que se conjugam com o estatuto narrativo/teatral que estrutura a peça, na qual tudo se faz obliquamente, transversalmente: os fatos anteriores mais importantes são evocados através de painéis pintados que são visitados e "narrados" pelas personagens; além disso, o reconhecimento entre pai e filhos e o acerto final entre Rāma, Sītā e Laksmana se da durante uma representação teatral escrita e dirigida por Vālmikī, que nada mais e do que o suposto autor do poema épico - numa sugestão bastante evidente da "teatralização" de uma certa Verdade sobre o discutido caráter de Rāma.
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