A literatura viaja para outros tempos e lugares e, no percurso, é afetada por mutações e reavaliações. O entendimento tradicional dessas alterações em termos da apropriação de um significado original a ser reinterpretado no momento da recepção relega a segundo plano as condições estruturais do objeto original que possibilitam reapropriações. A ênfase na reprodução do sentido no momento da recepção tende a preservar a autonomia tanto do autor que produz como da obra executada. O conceito foucauldiano de “absence d’oeuvre”, ao propor um vazio na origem da obra, abre caminho para um entendimento das condições de possibilidade da viagem do literário e das transgressões e revalorizações que a acompanham. A viagem da obra literária de Edgar Alan Poe ilustra exemplarmente a ocorrência dessas mutações transgressivas.
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