O Brasil foi um Estado escravista por mais de 350 anos. Essa prática foi legalmente extinta em 1888, mas deixou seu legado. Passado todo o século XX e duas graves ditaduras, vivemos a esperança de melhores momentos com a abertura política iniciada nos anos 1980, a promulgação de uma Constituição em 1988 e com ela, o fortalecimento dos direitos civis, individuais, inaugurando uma nova etapa na luta pelos direitos humanos. Em que pesem os avanços presentes nessa carta quanto aos direitos trabalhistas, direitos sociais, liberdades individuais, o Brasil ainda vivia às voltas com denúncias de trabalho escravo e tais casos não retratavam uma sobrevivência do passado, mas eram e continuaram a ser durante esse início de século XXI, expressão dessa sociedade moderna, atingindo áreas aparentemente insuspeitas como a agroindústria e inclusive nas regiões metropolitanas do Sudeste brasileiro. O traço de permanência possível de ser observado entre o passado e o presente não está na tentativa de confronto, ou de comparação entre o modelo de exploração de mão-de-obra legal extinto no século XIX e a prática criminosa e moralmente condenável verificada hoje; mas sim na perpetuação de uma brutal distância social entre ricos e pobres que torna o país, nas palavras de Hobsbawm, um monumento à desigualdade social.
© 2001-2024 Fundación Dialnet · Todos los derechos reservados