A cidade, entendida a partir de sua complexidade, apre-senta ao longo do tempo diferentes configurações e sig-nificados. A partir do entendimento da relação entre o espaço construído, as práticas sociais e as transforma-ções urbanas - sejam elas físicas ou de significado – re-conhece-se, além da dimensão geográfica, as dimen-sões social e histórica da cidade e afirma-se então a complexidade urbana. O planejamento, o projeto e a gestão urbanos correspondem, por sua vez, a indisso-ciáveis práticas na busca de um ordenamento do territó-rio urbano. É a partir do reconhecimento da importância de instrumentalização dos processos de planejamento e projeto urbano, associados ao reconhecimento de sua complexidade que se insere este artigo. Apoiado na in-terdisciplinaridade do urbanismo como indicativo para uma aproximação a partir de diferentes abordagens, o artigo traça a possibilidade de elaboração de uma ins-trumentalização complexa de análise e projeção urba-nas focada na dialogia. Compreendendo, assim, tanto a vitalidade da cidade a partir de seus processos de trans-formação quanto a construção de uma identidade a partir de práticas sociais constituintes de valores de me-mória, o artigo tem foco em áreas urbanas de interesse cultural, atribuídas de significado. As transformações urbanas, sejam elas causais ou casuais, são resultantes do processo de construção da cidade e, no caso de áreas de interesse cultural, devem ter especial atenção. É neste sentido que coloca-se a importância do cons-tante acompanhamento dos processos de transforma-ção urbana. Valores de memória coletiva, bem como resultados da relação dialógica entre os agentes cons-trutores da cidade – sociedade civil, poder público e po-der privado - pertencentes a um o contexto específico, atuam como propulsores de permanências bem como de ruptura do espaço construído. É a partir de estudos existentes e de instrumentos de análise e projeção do espaço urbano constituídos que surge o interesse pelo incremento dos mesmos com a proposição de uma abordagem a partir da dialogia. Neste sentido, entende--se como uma importante contribuição ao urbanismo como processo científico e metodológico, a construção de uma revisão de teorias já propostas bem como a contribuição a este instrumental a partir de uma aproxi-mação ao meio ambiente social e histórico. Assim sen-do aponta-se uma primeira aproximação às bases teó-rico-metodológicas a serem perseguidas pelo projeto. São elas, o reconhecimento da história da cidade como legado e método – a partir de contribuições de autores como Aldo Rossi e Lewis Mumford – as contribuições sobre a apreensão da forma urbana – a partir de estu-dos de Gordon Cullen, Kevin Lynch, José Garcia Lamas e Maria Elaine Kohlsdorf – e contribuições à interpreta-ção do espaço habitado a partir do meio ambiente so-cial e histórico, representados pela aplicabilidade de es-tudos sobre dialogia de Mikhail Bakhtin ao espaço urbano, da hermenêutica aplicada à arquitetura por Paul Ricoeur e da Topogênesis ou arquitetura como lugar por Josep Muntañola.
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