A arte de escrever cartas (a epistolografia), como a entendia o poeta Pêro de Andrade Caminha (1520-1580), não era apenas uma forma de expressão literária ou mero exercício de erudição letrada. Para ele, tratava-se, antes de tudo, de um modo estratégico de comunicação a partir de um quadro mais extenso de sociabilidade aristocrática. Neste trabalho, examinamos duas epístolas em verso de Andrade Caminha, que desempenham, em particular, a temática do casamento: a primeira, endereçada a Alexandre Farnese, príncipe de Plasência; e a segunda, a D. Miguel de Noronha. Em ambas, o que se pode perceber é que, para além de angariar a benevolência de seus destinatários, as epístolas de Caminha se inserem na lógica social da Idade Moderna, estabilizando a “força performativa” de seus enunciados num quadro de princípios capaz de legitimar uma ordem de domínio, de definir padrões de conduta e de regular satisfatoriamente a interação entre pessoas e grupos. Elas ratificariam, assim, um complexo de intercâmbios sociais, cujo conteúdo e extensão doutrinava o modo de proceder das várias partes da comunidade.
The art of letter-writing (the epistolography), as understood by the poet Pêro de Andrade Caminha (1520-1580), is not only a form of literary expression or a mere exercise of literate erudition. For him, it means, once and for all, a strategic way of communication according to a certain frame of aristocratic sociability. In this work, we examine two Andrade Caminha’s verse epistles, which developed in particular the marriage theme: the first addressed to Alexandre Farnese, Prince of Plasência; and the second one, to D. Miguel de Noronha. In both of them, we can perceive, beyond the objective of conquering the goodwill of his recipients, the Caminha’s epistles were immersed in the social logic of the Modern Age able to legitimize and to stabilize their performative force in the political context of the period, to define moral behaviors, and to regulate the interaction among people and groups. Therefore, they confirm a complex of social interchanges, whose content and extension indoctrinated the way of acting in the many parts of the community.
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