A. do Nascimento Joaquim, Joao Carlos Caninas, Alexandra Gradim, João Luís Cardoso
Neste trabalho apresenta-se o resultado das escavações realizadas respectivamente em 1998 e em 2001 nos núcleos de menires de Lavajo I e de Lavajo II, distanciados cerca de 250 m na direcção NNE e separados pelo pequeno vale do Lavajo. Os locais, actualmente, são intervisíveis, graças à implantação destacada no terreno: Lavajo I situa-se no topo de colina enquanto Lavajo II ocupa a linha de festo de uma encosta, conferindo ao local visibilidade tanto do lado sul como do lado norte. O conjunto de Lavajo I é constituído actualmente por três monólitos, todos de grauvaque: um, quase inteiro, de tendência fálica, é actualmente o maior menir de grauvaque conhecido em território português, atingindo o comprimento máximo de 3,14 m; outro, quase completo, fragmentado em três grandes blocos, possui formato estelar; o restante apresenta- se muito incompleto, dele se conservando apenas uma lasca da sua face frontal. É crível, no entanto, que pudessem existir mais monólitos, tendo em conta os abundantes fragmentos de grauvaque ali observados, quase todos com fracturas frescas. Todos os menires de Lavajo I se apresentam decorados, com destaque para o maior deles, o qual exibe complexa decoração estreitamente relacionada com a morfologia do suporte lítico. Apenas para este foi possível determinar o local de implantação, correspondente a um alvéolo de planta circular e fundo aplanado, parcialmente danificado pelos trabalhos realizados em 1994, que conduziram ao seu reerguimento, infelizmente feito de forma pouco cuidada e incorrecta, visto ter sido colocado no terreno em posição invertida. Seja como for, na zona culminante daquele pequeno cabeço, implantaram-se três menires decorados, os quais não podem ser vistos isoladamente, já que se articulariam directamente com o conjunto de Lavajo II, que se avista ao longe, do outro lado do pequeno vale do Lavajo e na linha de festo da encosta, da qual ocupa a parte média. Neste segundo local, identificaram-se quatro estelas-menir não decoradas, todas de grauvaque, das quais apenas uma, representada por fragmento de pequenas dimensões, se encontrava in situ. Foi, no entanto, possível reconstituir a posição relativa das restantes, através da escavação integral do respectivo alvéolo, correspondente a rasgo alongado, orientado Este-Oeste, aberto no substrato geológico, constituído por xistos do Carbónico Superior finamente folheados. Deste modo, é de concluir que as estelas menir se dispunham em linha, constituindo um painel lítico contínuo. No interior do alvéolo, recolheram-se diversos artefactos ali ritualmente depositados aquando da fundação do monumento, cuja tipologia indica o Neolítico Final, cronologia aliás compatível com a do conjunto megalítico de Lavajo I, tendo presente a iconografia patente nos menires. Muito embora não se conheça ainda suficientemente o padrão de povoamento da região no Neolítico Final, estes dois núcleos megalíticos podem ser interpretados como marcadores de territórios e/ou de espaços sagrados, sendo de destacar a existência, durante todo o ano, de água nas proximidades imediatas, recurso escasso e precioso, que propiciaria a horticultura. Por outro lado, a natureza das matérias-primas utilizadas na confecção dos artefactos encontrados (sílex, anfibolito), para além de outros materiais de circulação transregional muito mais alargada (fibrolite), evidencia a forte interacção destas populações tanto com o interior do Baixo Alentejo (Zona de Ossa/Morena), como com o litoral algarvio ou andaluz, compatível com estádio de desenvolvimento económico do final do Neolítico do sul peninsular. Numa vasta região, correspondente a todo o sotavento algarvio, onde o megalitismo não funerário era até agora totalmente desconhecido, os testemunhos ora estudados constituem, doravante, uma das expressões mais interessantes e significativas do Sudoeste peninsular.
In this article, we present the results of excavations conducted in 1998 and 2001 in the nucleus of menhirs of Lavajo I and Lavajo II, respectively, located 250 m from each other in the NNE direction and separated by the small valley of Lavajo. At present, the sites are intervisible, owing to the strategic location on the terrain: Lavajo I is situated on the top of a hill while Lavajo II is located on a slope, conferring visibility to the location both on the south as well as on the north side. Currently, Lavajo I is made up of three monoliths, all of greywacke: one, almost complete, of a phallic appearance, and currently the largest greywacke menhir known in Portugal, reaching a maximum length of 3,14 m; another, almost complete, broken in three large blocks, with a stela-like appearance; the third, very incomplete, of which is preserved only a piece of its front side. It is possible, however, that there once were more monoliths, considering that abundant fragments of greywacke were found at the site, all with fresh fractures. All the menhirs of Lavajo I are decorated, with the largest one decorated prominently and strictly related to the morphology of the lithic support. This was the only one it was possible to determine its original location, which corresponded to a small pit of circular plan and flat bottom. The pit was partially damaged by work carried out in 1994 to re-erect the menhir, which was unfortunately conducted with little care and incorrectly, as it was placed in reverse position. Be that as it may, in the highest zone of this small hill were placed three decorated menhirs, which cannot be seen in isolation as they articulated directly with the group at Lavajo II, which can be seen from the other side of the Lavajo valley. In this second location, four undecorated stela-menhirs, all of greywacke, were discovered, of which only one, represented by a small fragment, was found in situ. It was, nevertheless, possible to reconstruct the relative positions of the remaining ones, through the excavation of their respective sockets, associated with an elongated groove, oriented east-west, and cut into the bedrock made up of finely foliated Late Carboniferous schists. In this way, we concluded that the stela-menhirs were arranged in a line and constituted a continuous lithic panel. Within the pitholes were recovered diverse artifacts ritually placed there during the construction of the monument, whose typology points to the Late Neolithic and whose chronology is compatible with that of the megalithic group at Lavajo I, based on the iconography of the menhirs. Although the settlement pattern of the Late Neolithic in the region is not well-known, these two megalithic nuclei could be interpreted as territorial markers and/or sacred spaces; of note is the existence of year-round water sources in their immediate proximity, water being a scarce and precious resource which would have aided in horticulture. On the other hand, the nature of the raw materials used in the manufacture of artifacts found (flint, amphibolite), in addition to other material acquired through extensive transregional trade (fibrolite), is evidence for regular interaction between populations in both the interior of the Baixo Alentejo (Ossa/Morena Zone), as well as along the Algarve or Andalucian coast, consistent with the level of economic development of the Late Neolithic of the southern Iberian Peninsula. In a vast region, corresponding to the entire Eastern Algarve, where non-funerary megaliths were until now totally unknown, the sites of Lavajo I and II are interesting and significant expressions of the South western Iberian megalithism.
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