A arte de curar as mulheres

• Autores: Tânia Souza Lourenço
• Localización: Ars Historica, ISSN-e 2178-244X, Nº. Extra 1, 2015 (Ejemplar dedicado a: Anais da IX Jornada de Estudos Historicos profesor Manoel Salgado), págs. 143-153
• Idioma: portugués
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    In Europe, at the beginning of the Modern Period, the medical methodology had arguments that reaffirmed the structural inferiority of women, justifying their role in society based on Aristotelian and Galenic precepts. Women should submit to men. Their social function was well defined by their physical characteristics and peculiar bodies: they should conceive and educate their children inside socially accepted values. The female organism was considered sickly, frail, and weak, thus more susceptible to diseases. A woman‘s uterus, or better, her matrix, was considered as the source of most female diseases. They believed this organ communicated with other parts of the body and it‘s malfunction could cause, amongst other things, headaches. This work analyzes the healing practices applied to women steaming from the 17th century medical knowledge in Portugal. Bloodletting was the most widely used method to rehabilitate patients, regardless of gender, age or social status. In the therapeutic procedures analyzed, an effort has been made to research the specificities of the healing techniques used on women and their similarities to that used on men. For that purpose, the book ―Observaçoens medicas doutrinaes‖ (Doctrinal Medic Observations, in free translation), of doctor João Curvo Semedo, physician of the Royal House and Holy Office Prisons, was used in the analysis. The publication brings accounts of the common sicknesses the patients had and their treatment. Author of a wide number of medical treaties, Semedo stands out among his peers for his experience in the healing arts and for the medicines he invented. He innovated by bringing together traditional medical knowledge and Hermeticism. His methods to heal women obeyed to criteria in consonance with the menstrual period and pregnancy. Beyond that he also used resources of the magical universe and the supernatural

  • português

    Na Europa, no início da Época Moderna, o discurso médico fornecia argumentos que reafirmavam a inferioridade estrutural da mulher e justificavam o papel que elas desempenhavam na família e na sociedade, apoiando-se em preceitos aristotélicos e galênicos. A mulher devia estar submetida ao homem. A sua função social estava bem definida pelas características físicas peculiares do seu corpo: devia conceber e educar os seus frutos dentro dos valores socialmente aceitos. O organismo feminino era considerado doentio, frágil, débil e por isso mais suscetível às doenças. O útero, ou melhor, a matriz era considerada a fonte da maioria das doenças que atingiam as mulheres. Acreditava-se que esse órgão tinha comunicação com diversas partes do corpo feminino e o seu mau funcionamento poderia causar, entre outros sintomas, uma dor de cabeça. O presente trabalho analisa as práticas de cura aplicadas às mulheres a partir do saber médico do século XVII, em Portugal. A sangria foi o método mais usado na reabilitação de pacientes de todas as idades, independente do gênero, idade ou grupo social. Nos procedimentos terapêuticos investigados procurou-se destacar as especificidades das técnicas utilizadas para a reabilitação de pacientes do sexo feminino, bem como as semelhanças no tratamento de doentes homens. Para isto, foi utilizada a obra ―Observçoens medicas doutrinaes‖, do doutor João Curvo Semedo, médico da Casa Real e dos Cárceres do Santo Ofício. A obra é um relato dos achaques de diversos pacientes atendidos, bem como dos tratamentos prescritos. Autor de inúmeros tratados de medicina, Semedo destacou-se entre seus pares pela experiência na arte de curar e pelos remédios que inventou, inovando ao associar o conhecimento médico tradicional à Escola Hermética. Os métodos por ele empregados para curar as mulheres obedeciam a critérios em consonância ao ciclo menstrual e a gravidez, além da utilização de recursos do universo mágico ou sobrenatural.