Socorro, Portugal
Es reseña de:
Aliyah. Estado e Subjetividades entre Judeus Brasileiros em Israel/Palestina
Miguel Vale de Almeida
Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2019
Este é um livro de Antropologia, de uma antropologia contemporânea que dá voz aos seus interlocutores, não para os representar e assim continuar a outrificar e subalternizar, mas contando a, e com a, sua agência, de forma concertada, para dar inteligibilidade às suas próprias realidades culturais e políticas.
Mas Miguel Vale de Almeida sabe bem que nesse exercício difícil de construção de um olhar neutro espreita sempre a suspeição de escamoteamento do enviesamento político por detrás de um alegado alheamento. Ainda mais quando se trata de um universo tão saturado politicamente como é o de Israel e/ou do judaísmo.
O autor antecipa a suspeita, ao construir um livro (rebelde, resultado de um projeto sem financiamento e alheio a agenda) em duas partes: a primeira, mais analítica, sobre sionismo, identidade judaica e fundação do Estado de Israel; outra, mais etnográfica, em interação com interlocutores brasileiros que fizeram a Aliyah. Dá assim aos leitores a escolha de ouvirem de modo mais sonante a sua própria voz (na primeira parte), ou de preferirem a dos seus entrevistados (na segunda), ou de juntarem ambas lendo o livro todo, o que, na verdade, cumpre melhor a sua função anunciada: a de tomar o Estado de Israel como um laboratório para pensar toda a série de narrativas da modernidade tabeladas pelo secularismo, o liberalismo, e o nacionalismo (podíamos acrescentar ainda o colonialismo). Israel é aqui entendido como um Estado ventríloquo dos oxímoros dessas narrativas. Isso porque é um Estado a funcionar demasiado e em pleno.
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