No debate acerca da singularidade de, pelos menos, alguns de nossos pensamentos sobre o mundo, assume-se corriqueiramente que o responsável pela natureza singular do episódio mental não é o próprio episódio e, sim, a proposição singular expressa quer por um proferimento assertórico de sentença singular autônoma, quer pela cláusula complementar em um relato de atribuição de atitude proposicional. As rotas semânticas padrão assumem que a singularidade do episódio mental (conceitual) é por assim dizer “herdada” da singularidade do conteúdo. Argumento que este pressuposto apresenta uma lacuna, pois desconsidera o papel desempenhado em certos atos de pensamento, chamados de episódicos, por habilidades cognitivas tais como a capacidade de perceber objetos particulares, de vivenciar (novamente) ou de projetar-se mentalmente em direção a acontecimentos particulares pessoais, diretamente responsáveis por sua singularidade. No entanto, contra a tese de que haveria capacidades episódicas aí envolvidas, argumento que a singularidade dos atos de pensar episódicos se dá pelo exercício pontual no espaço e no tempo dessas capacidades e há, portanto, um sentido não derivado em que eles podem ser qualificados como singulares.
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