O livro Minha vida na arte, do diretor russo Constantin Stanislavski, é aqui analisado a partir da possível relação entre a “escrita de si” operacionalizada por seu autor e o “trabalho do ator sobre si mesmo” levado adiante pelo próprio Stanislavski em sua prática teatral. O artigo discute os dispositivos formais que tornam possível a construção de um personagem autobiográfico nessa narrativa (a noção idealista de arte, condições históricas específicas e, finalmente, a descrição do personagem), percebendo como, no desenvolvimento do enredo, ocorre uma fusão entre a voz do narrador e a voz do personagem. Tal fusão parece indicar uma das operações primordiais que os atores deveriam realizar para atingir a espontaneidade que o personagem busca ao longo de todo o livro em suas diversas experiências cênicas. Assim, recorrendo a ferramentas da crítica literária, da teoria da História e dos estudos teatrais, avança-se na hipótese de que o trabalho que Stanislavski propõe a seus atores passa, necessariamente, por um tipo de escrita que encontra no romance moderno a sua grande inspiração.
The book My life in art, by the Russian theater director Constantin Stanislavski, is analyzed here from the point of view of the possible relation between “self-writing” operationalized by its author and the “work of the actor on himself” developed by Sta-nislavski himself in his theatrical practice. The article discusses the formal devices that enable the construction of an autobio-graphical character in this narrative (the idealistic notion of art, specific historical conditions and, finally, the description of the character), realizing how, throughout the unfolding of the plot, there is a fusion between the narrator’s and the character’s voices. Such a fusion seems to indicate one of the primary operations actors should perform to achieve the kind of spontaneity the character pursues throughout the book in his various scenic experiences. Thus, using tools of literary criticism, theory of History and theatrical studies, it is possi-ble to put forward the hypothesis that the work Stanislavski proposes to his actors necessarily requires a kind of writing that is widely inspired in modern novel.
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