Brasil
A fragmentação do mundo e do saber sobre o mundo numa série de esferas autônomas constitui a herança – ao mesmo tempo libertadora e alienante – da modernidade. Os seus efeitos são experimentados por nós dos mais diversos modos, no domínio das ciências e das artes, da reflexão filosófica e da práxis histórica. Numerosas tentativas procuraram, e continuam a procurar, responder a essa dispersão, oferecendo um horizonte de sentido através de sistemas conceptuais, modelos de comunicação ou estruturas de administração. Porém, inclusive quando possam considerar certa abertura, essas tentativas sempre implicam um princípio de totalização da realidade pela representação, ou uma referência da linguagem à forma do verdadeiro, ou uma redução da vida à lógica da efetividade. A ficção é ao mesmo tempo menos ambiciosa e mais precária, mas eventualmente pode chegar a nos oferecer uma forma incomensurável de relacionar-nos com a fragmentação do mundo moderno, sem fechá-lo peremptoriamente na conta de nenhum dispositivo de saber-poder nem de forma alguma de consenso. O presente trabalho pretende apresentar alguns conceptos de ficção que, de Nietzsche a Foucault e de Vaihinger a Saer, dão conta da potência do falso.
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