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Eduardo Souto de Moura

Imagen de portada del libro Eduardo Souto de Moura

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Índice



  • Conteúdo:


     
    6 Fernando Távora, Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura cargo de Antonio Esposito e Giovanni Leoni
     

    16 À procura de uma regra. A arquitectura de Eduardo Souto de Moura
      
    Giovanni Leoni
     

    36 A obra e o pormenor
      
    Antonio Esposito


    Obras, projectos, experimentações

    Projectos de formação 1977-1983
     
    60 Álvaro Siza, um arquitecto amoral
     
    A piscina de Leça, 25 anos depois
     
    Vocação animal
     
    Eduardo Souto de Moura
     
    62 Mercado Municipal, bairro do Carandá, Braga, 1980-1984
     
    68 Café do Mercado Municipal, bairro do Carandá, Braga, 1982-1984
     
    72 Remodelação do Mercado Municipal, bairro do Carandá, Braga, 1997-2001
     
    76 Mercado do Braga e café do mercado, Uma conversação com Herberto Helder
      
    Casa das Artes
      
    Eduardo Souto de Moura
     
    78 Projecto do café do centro desportivo, Braga, 1983
     
    80 Casa das Artes, rua António Cardoso, Porto, 1981-1991


    Casas 1982-2002
     
    92 Casas
     
    Eduardo Souto de Moura
     
    94 Casa 1, rua do Padrão, Nevogilde, Porto, 1982-1985
     
    98 Casa 2, rua de Nevogilde-avenida da Boavista, Nevogilde, Porto, 1983-1988
     
    102 Casa para três famílias, quinta do Lago, Almansil, Algarve, 1984-1989
     
    108 Casa unifamiliar, Casal dos Cardos, Alcanena, 1987-1992
     
    114 Casa 1, rua J. Camarinha Barrote, Miramar, Vila Nova de Gaia, 1987-1991
     
    118 Casa unifamiliar, avenida da Boavista-rua Miguel Torga, Porto, 1987-1994
     
    122 Casa 1, quinta da Batoca, Bom Jesus, Braga, 1989-1994
     
    128 Casa unifamiliar, Nogueira, Maia, 1990-1993
     
    132 Casa 1, lugar do Porto Manso, Baião, 1990-1993
     
    136 Casa unifamiliar, travessa do Souto, Moledo do Minho, Caminha, 1991-1998
     
    142 Casa em Nevogilde
     
    Casa na quinta do Lago em Almasil
     
    Casa em Alcanena e casa 1 em Miramar
      
    Casa na avenida da Boavista,
      
    casa em Bom Jesus, casa em Baião, casa em Moledo
      
    Casas com pátio em Matosinhos
      
    Casa em Tavira e casa na Serra de Arrábida
      
    Casa em Cascais
      
    Eduardo Souto de Moura
     
    146 Casas em banda, rua de Alfredo Keil, Pasteleira, Porto, 1992-2002
     
    150 Casas com pátio, Matosinhos, 1993
     
    156 Casa unifamiliar, Luz de Tavira, Algarve, 1991-1996
     
    160 Casa unifamiliar, Serra da Arrábida, Setúbal, 1994-2002
     
    164 Projecto da casa 2, lugar do Outeiro, Bom Jesus, Braga, 1996
     
    166 Casa unifamiliar, Cascais, 1994-2000
     
    170 Casa unifamiliar, Fomelos, Ponte de Lima, 2001-2002
     
    174 Projecto das casas 2, Maia, 2002
     
    176 Projecto da casa D6-3, Ponte de Lima, 2002



    Interiores e equipamentos 1979-2002
     
    181 "Olha a pala..."
     
    Eduardo Souto de Moura
     
    182 Interior de uma clínica dentária, rua do Amial, Porto, 1981-1983
     
    186 Remodelação de um apartamento, Braga, 1989-1991
     
    188 Remodelação de um apartamento, rua Marechal Saldanha, Foz do Douro, Porto, 1989-1992
     
    190 Loja de molduras Rui Alberto, praça de Lisboa, Porto, 1991
     
    191 Galeria de arte, praça de Lisboa, Porto, 1992-1993
     
    192 Loja de molduras no Centro Comercial Arrábida, Vila Nova de Gaia, 1996
     
    194 Desenho de interiores do centro comercialdo Chiado, Lisboa, 1997-1999
     
    198 Interior da agência modelo BPI, rua das Sobreiras, Lordelo, Porto, 1999
     
    200 Biblioteca infantil e Auditório para a Biblioteca Municipal, avenida R. Freitas, Porto, 1992-2001
     
    202 Projecto de conteúdos do pavilhão de Portugal, Expo 1998, Lisboa, 1995-1998
     
    204 Interiores do pavilhão de Portugal, Expo 2000 de Hanôver, 1999-2000
     
    206 Pavilhões CIAC, Fafe, Parede, Setúbal, Torre Vedras, Vila Real, Vila de S. António, Cascais, 1986-1987
     
    207 Quiosques modulares para bilheteiras STCP, Porto, 1998-1999
     
    208 Cenografia da ópera "Os dias Levantados", Teatro São Carlos, Lisboa, 1998
     
    209 Cenografia para o programa "Maria Elisa" da RTP, Lisboa, 2000



    Edifícios em bloco 1987-1999
     
    213 Hotel em SalsburgoTorre para escritórios Burgo
      
    Banco Ideal "Olivetti"
      
    Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro
      
    Edifício para habitação na rua do Teatro e edifício para habitação e escritórios em Maia
      
    Eduardo Souto de Moura
     
    216 Projecto de concurso para um hotel, Salsburgo, 1987
     
    218 Projecto de edifício para escritórios em Burgo, Boavista, Porto, 1990-1991
     
    222 Projecto de concurso para a Banco Ideal "Olivetti", Itália, 1993
     
    224 Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, Campus Universitário, avenida Artur Ravara, Aveiro, 1990-1994
     
    230 Projecto de ampliação da biblioteca municipal, avenida Rodrigo de Freitas, Porto, 2000
     
    234 Projecto de edifício para grandes armazéns, praça Gomes Teixeira, Porto, 1995
     
    235 Edifício para habitação, rua do Teatro, Foz do Douro, Porto, 1992-1995
     
    242 Edifício para habitação, praça Liège, Porto, 1994-2000
     
    246 Casa unifamiliar, rua do Crasto, Porto, 1996-2001
     
    250 Projecto de um edifício de habitação, rua do Molhe, Foz do Douro, Porto, 1996
     
    252 Edifício para habitação e escritórios, travessa da Cavada, Maia, 1997-2001



    Projectos urbanos 1982-2002
     
    261 A cidade é "funcional"
     
    Gabrielle Basilico, um fotógrafo arquitecto
      
    Projectar uma ponte
      
    Eduardo Souto de Moura
     
    264 Projecto da praça Giraldo, Évora, 1982
     
    266 Projecto de plano de pormenor para Porta dei Colli, Palermo, 1987
     
    268 Projecto de plano de pormenor para Mondello, Palermo, 1988
     
    270 Projecto de concurso para arranjo da place Montcalm, Nîmes, 1991
     
    273 Projecto de concurso para a ponte da Accademia, Veneza, 1985
     
    274 Projecto de viaduto, avenida 24 de Julho, Lisboa, 1993
     
    275 Estudo para um viaduto, Areosa, Porto, 1994
     
    276 Projecto de ponte móvel, Porto de Leixões, Matosinhos, 2002
     
    277 Projecto de plano pormenor para o lido Camaiore, Camaiore, 1995
     
    278 Plano de pormenor do novo centro direccional, Maia, 1994-
     
    280 Reconversão da faixa marginal de Matosinhos, 1995
     
    286 Projecto de plano de pormenor de Murs a Peche, Paris, 1997
     
    288 Projecto de reordenação urbana Gist Brocades, avenida Norton de Matos, Matosinhos, 2002
     
    289 Projectos para a frente norte do Parque da Cidade e frente sul da avenida Boavista, Porto, 2001



    Projectos sobre o existente 1982-2002
     
    295 Muros
     
    Eduardo Souto de Moura
     
    296 Recuperação de uma casa, Foz do Douro, Porto, 1986-1988
     
    298 Anexos e ordenação exterior de uma casa de José Porto, rua da Vilarinha, Porto, 1986-1988
     
    304 Reconversão do convento de Santa Maria do Bouro numa pousada, Amares, 1989-1997
     
    312 Projecto de decoração para a pousada de Santa Maria do Bouro, Amares, 1996-1997
     
    314 Remodelação e valorização do Museu Grão Vasco, Viseu, 1993-
     
    316 Reconversão da Alfândega nova em sede do Museu dos Transportes e das Comunicações, rua Nova da Alfândega, Porto, 1993-2002
     
    322 Pedra da Alfândega nova, rua Nova da Alfândega, Porto, 2002
     
    324 Projecto da Nave Ferroviária para o Museu dos Transportes e das Comunicações, rua Nova da Alfândega, Porto, 2001
     
    328 Transformação de uma casa em Galeria Dário Ramos, rua do Padrão, Porto, 1996-1997
     
    332 Reconversão da ex-Cadeia da Relação em Centro Português de Fotografia, rua S. Bento da Vitória, Porto, 1997-2001
     
    340 Rua da Vilarinha
     
    Santa Maria do Bouro
     
    O Museu dos Transportes
     
    A Galeria Dário Ramos,
      
    Centro Português de Fotografia
     
    Casa D6
      
    Silo Cultural
      
    Eduardo Souto de Moura
     
    344 Recuperação da casa D6-1, rua Padre Luís Casal, Foz Velha, Porto, 1998-2000
     
    346 Projecto de recuperação da casa D6-2, Porto, 2001
     
    348 Reconversão de um depósito de carvão em escritório de D6, rua Padre Luís Casal, Foz Velha, Porto, 2000
     
    350 Restauração de um apartamento projectado por Távora, avenida do Brasil, Porto, 1999
     
    351 Galeria Silo Cultural no centro comercial Norteshopping, Matosinhos, 1998
     
    354 Projecto do Museu de Arte Sacra, Santiago do Cacém, 2000
     
    356 Concurso para o Centro Nacional de Arte Contemporânea, Roma, 1999
     
    358 Projecto para a companhia Aurificia, Porto, 2001


    Experimentações 1997-2002

    363 Nexus
      
    Fragmentos
      
    O Museu da Ilustração
      
    Bic/Bic/Bic - Bic Cristal
      
    Eduardo Souto de Moura
     
    368 Casa do Cinema Manoel de Oliveira, rua do arq. Viana de Lima, Porto, 1998-2002
     
    372 Projecto do Museu do Surrealismo, Vila Nova de Famalicão, 2000
     
    377 Concurso para um edifício de escritórios, Atenas, 1999
     
    380 Projecto de pavilhão multiusos, Viana do Castelo, 2000
     
    385 Projecto de um amplificador de válvulas, 1999-2002
     
    386 Projecto de restaurante Sul na Marginal Sul, avenida Norton de Matos, Matosinhos, 2002
     
    389 Projecto de restaurante Norte na Marginal Norte, avenida Norton de Matos, Matosinhos, 2002
     
    391 Projecto da discoteca e clube náutico na Marginal Sul, avenida Norton de Matos, Matosinhos, 2002
     
    395 Projecto da igreja da Misericórdia, Maia, 1998
     
    397 Projecto de biblioteca privada, rua Sobre o Douro, Porto, 1999
     
    400 Projecto de Estádio Municipal, Évora, 1997
     
    401 Estádio Municipal, Braga, 2000-
     
    412 Projecto de arquitectura para o Metro, Porto, 1997-


    Anexos
     
    424 Listagem dos projectos
     
    432 Colaboradores
     
    434 Entrevista biográficaa cargo de Monica Daniele
     
    440 Bibliografia
     
    447 Créditos das ilustrações


Descripción principal

  • Obra de referência de arquitectura contemporânea, esta monografia constitui a recompilação mais extensa da obra de Souto de Moura realizada até momento. Inclui uma análise exaustiva de cada obra através de textos, desenhos, fotografias e extenso material gráfico. Apresenta um levantamento de todas as obras do Souto de Moura, desde os primeiros projectos até as últimas obras de grande porte, como o Estádio do Braga ou o Metropolitano do Porto.

    Além das memórias descritivas que acompanham cada uma das obras, todas revisadas por Souto de Moura, este livro também inclui textos escritos pelo próprio arquitecto, uma conversa entre este, Fernando Távora e Álvaro Siza Vieira e uma entrevista inédita realizada por Monica Danieli em dezembro de 2002.

Extracto del libro

  • Fernando Távora, Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura
    a cargo de Antonio Esposito e Giovanni Leoni
    (extrato)

    A monografia dedicada a Eduardo Souto de Moura será seguida brevemente por um volume análogo sobre Fernando Távora, ambos na colecção que já contém a obra de Siza, o que alimentará inevitavelmente a ideia de uma genealogia, ainda que um dos nossos empe-nhos, ao preparar os volumes sobre Távora e Souto de Moura, foi o de mostrar que comple-xidade de pesquisa e de relação esconde a genérica definição crítica de "escola do Porto". Poderão ajudar-nos a evitar o equivoco?

    Siza Eu diria que nós não somos arquitectos do Porto. Souto de Moura é o único que se pode definir como tal porque dedica-se, com muita paciência e sofrimento, ao metropolitano. Eu nunca fui um arquitecto do Porto e também Távora, de facto, nunca o foi, a não ser recentemente construindo a torre ao lado da catedral (recuperação do antigo palácio municipal "casa das Vinte e Quatro", 1995), obra que teve uma influência e um impacto enorme na cidade e pela qual foi mal acolhida. Eu construí um museu a convite do governo central (museu da Fundação Serralves, 1991) e a faculdade de arquitectura (desde 1985) por decisão do Távora, nada mais. O meu único projecto para as comemorações do Porto capital da cultura europeia 2001, o Museu da Cidade na avenida Henriques, teve críticas sumárias e inesperadas e finalmente decidiu-se não construir. Souto de Moura, como dizia, é o único que está a conseguir, com muita perseverança, ser arquitecto desta cidade, encomendou-me uma terceira obra, uma das estações do metropolitano. Ambos nos pronunciámos publicamente de forma muito crítica acerca das iniciativas do Porto 2001, sobre os projectos executados sem tempo de maduração, com um péssimo controle da obra. Considero uma experiência absolutamente errada com consequências desastrosas para a cidade.


    Souto de Moura Porto é hoje uma cidade pouco reactiva, apaixonam-nos os temas naturais mas a poucos interessa a qualidade da arquitectura. Existem elementos intocáveis, como o rio, e dá-se muita importância à protecção das zonas verdes. Para construir uma das estações do metropolitano, já que o edifício encontrava-se no centro de um jardim, propôs-se a transferência temporária das árvores para outro lugar, mas um movimento ecologista bloqueou a construção, as pessoas ligaram-se às árvores para que ninguém as levasse. Não vi a mesma reacção quando se construíram, na outra margem do rio, edifícios com dezassete pisos e de todos os géneros. A casa do Cinema (1998) encontrou-se fechada entre edifícios altos, tanto que tive que alterar o projecto em função deste fechamento. É estranho, está-se a destruir a cidade e às pessoas não interessa proteger o que é mineral e não vegetal; por uma ideia falseada de Património se se mexe numa igreja há um escândalo, mas um edifício feio e mal projectado passa desapercebido.


    Siza Existe, porém, uma reacção contra a qualidade, demostra-o a polémica sobre a construção da torre do Távora ou contra os meus poucos projectos. E os movimentos de protesto são alimentados por uma cultura arquitectónica. Projectei um conjunto de edifícios no Porto, construí um e foi imediatamente vendido a preços altos mas, apesar do sucesso, a encomenda foi-me retirada. Construí o segundo, venderam-no despachando-o como um projecto meu, quando eu apenas tinha feito a planta. Um projecto de qualidade põe em causa os projectos sem qualidade. Que o Porto esteja entregue a uma violenta transformação parece evidente e quem conhece a "escola do Porto" apenas pelas revistas não imagina certamente que esta seja tão pouco visível nas ruas desta cidade. Talvez a verdadeira "escola do Porto" consiste sobretudo na influência que as vossas três personalidades exercem fora de Portugal, no âmbito internacional.


    Siza Existem certamente arquitectos de qualidade no Porto, jovens com talento, mas isto ocorre em qualquer lugar. O panorama geral, porém, é terrível. Houve um surto de euforia acerca da "escola do Porto", utilizada também politicamente, que eu me sinto obrigado a combater porque é falsa, fruto de pura hipocrisia. Podem-se falar de influências pessoais, da aprendizagem de um com os outros, mas não de uma escola, existem diversas pesquisas numa arquitectura que hoje é plural, com muitas afinidades; mas se se olha para a cidade, dizer "escola do Porto" significa dar uma péssima definição.


    [...]

    Falemos então das afinidades reais, das relações que vos uniram com os anos.



    Távora Eu não acho que tenha influenciado o Siza, e nem sequer o Souto de Moura, em relação ao projecto e à qualidade da arquitectura; talvez na formação, também por uma questão de idade. Na realidade a minha formação cultural foi muito anómala, tinha um pai muito culto, interessado pela arquitectura, disciplina que portanto não deparei pela primeira vez na escola. Lá encontrei um professor, Carlos Ramos, que de maneira algo vaga transmitia-nos o interesse para determinados temas novos. Na escola, de resto, não havia livros porque a biblioteca estava sempre fechada e era preciso uma autorização especial; ninguém lia, mas uma vez encontrei um folheto A4, que estava num armário de uma das salas, no qual se dizia que uma boa casa tinha que ter lustro, tinha que ser leve e assim por diante, aquelas eram as recomendações que se davam aos alunos. Não havia nenhuma referência às regras da construção, à composição. De facto Ramos não transmitia um método, tinha uma visão da casa renascentista, com um certo encanto, uma certa pureza e sobretudo uma procura de conforto. Um dos meus primeiros projectos com ele era em Viana do Castelo, uma casa clássica, com pilares e frontões, e ele me disse: "Se puséssemos uma grinalda?", e eu: "Uma grinalda? não é moderna", "Sim eu sei - respondeu-me - mas fica bem". Ramos fazia uma arquitectura ecléctica, moderna e antiga; acho que era importante sobretudo a sua presença física, a forma como tratava os alunos, como uma pessoa educada, de boa família.


    Siza Lembro-me que uma vez Ramos olhou um desenho meu e disse-me: "Devias comprar uma revista de arquitectura"; e era verdade, não tinha sequer uma, e nenhuma informação, nem minha e nem por cultura familiar. Tinha entrado na escola para estudar escultura e encontrei-me nos primeiros anos a estudar as ordens clássicas, portanto mudei por uma autocrítica fundamentada. Fui com o meu pai comprar a revista de arquitectura e trouxe seis números de L'Architecture d'aujourd'hui; um era sobre Alvar Aalto, o outro sobre Gropius. Voltei à escola com a revista, fascinado com o projecto de Aalto para o MIT (Baker House, Campus do MIT, 1947-1948), mostrei-o aos meus colegas e eles disseram-me que tão curvo era horrível. Foi uma terrível frustração que com Ramos nem falei, já não tive coragem de mostrar aquele projecto. Ele tinha muitos contactos internacionais, tinha viajado, era um bauhausiano, grande apreciador da arquitectura nórdica e da Holanda. Os seus ensinamentos pareciam vagos mas estava atento a cada aluno.

    Távora foi o meu professor no quarto ano, o primeiro a pensar que eu não era assim tão mau como aluno. Convidou-me para trabalhar no seu atelier, ainda estudante, procurou-me o meu primeiro trabalho (piscina na quinta da Conceição, 1958) e, mais tarde, o segundo (casa de Chá da Boa Nova, Leça da Palmeira, Matosinhos, 1958) uma generosidade hoje impensável. Havia uma relação muito estreita, uma grande vitalidade naquele período: estávamos nos anos cinquenta, a altura na qual a escola de arquitectura se renovava graças à entrada de Carlos Ramos, como director, e de um grupo de professores ditos os "Jovens Arquitectos". Houve o Inquérito sobre a arquitectura popular portuguesa (1955) que envolveu arquitectos, professores e estudantes, numa situação política muito perigosa mas também muito interessante. Posso dizer que ao realizar as primeiras obras a mi-nha maior preocupação era de "incluir" o ensinamento do Távora no projecto. Alguma da sua arquitectura, como a casa de Ofir (1957) ou o mercado de Vila da Feira (1953), teve sobre mim um grande impacto. Lembro-me que quando projectei a minha segunda casa, na qual pus persianas nas janelas (casa Carneiro de Melo, Porto 1957-1959) com uma refe-rência directa e ingénua ao Távora, um amigo nosso mais velho comentou: "Ah, Siza... o arquitecto que faz as casas cobrindo-se os olhos". Não havia muitas referências, havia a arquitectura construída e não era muita. Mas se excluo as minhas primeiras obras marcadas por uma influência directa evidente, não acho que existam relações estreitas formais entre mim e Távora, assim como não existem entre mim e Souto de Moura. Certamente existem influências no que se refere às ideias sobre a arquitectura.

    A minha relação com Souto de Moura, de resto, é muito diferente. Antes de mais nada, existe uma diferença de idade muito maior, eu tenho dez anos menos que o Távora e o Souto de Moura tem vinte anos menos que eu. Para além disso, eu nunca fui seu professor na escola de arquitectura porque quando ele a frequentava eu já me tinha demitido. Não era um período tranquilo dentro da universidade, existiam lutas estudantis, um debate sobre a condição do arquitecto, discussões acerca do projecto, e quase era considerado um pecado agarrar no lápis e desenhar. Foi a experiência das brigadas SAAL que fez as novas gerações reconsiderar a importância do desenho. Eduardo trabalhou comigo no projecto SAAL para São Vítor (complexo residencial SAAL em São Vítor, Porto, 1974-79). Ele tinha referências que não faziam parte da minha formação ou que descobri mais tarde, e não tenho dificuldade em admitir que a influência foi recíproca, facto que talvez nunca analisei a fundo.


    Souto de Moura Efectivamente, houve um período no qual o debate na escola estava descentrado no estado da arquitectura. Não se faziam projectos ou desenhos e a arquitectura era uma ciência social. Távora era meu professor, um dos poucos que me pediu para fazer um projecto. Estava de acordo sobre a importância dos valores sociais, mas sustentava que não eram suficientes, que era preciso desenhar.


    Távora Sim, eram condições muito diferentes em relação à época do meu ensinamento ao Siza. Souto de Moura frequentou a escola num período difícil, no qual os alunos não podiam desenhar porque parecia quase um crime e a minha insistência nesse sentido provocava uma reacção muito forte entre os colegas, porém ainda mais entre os estudantes, que me entregavam manifestos mais marxistas que o próprio Marx. Tinham muita força e estava tudo reduzido a acções políticas.


    Souto de Moura Estávamos no auge da contestação e não dávamos muita importância às recomendações dos professores. A primeira coisa que me tocou no Távora foi mesmo o seu hábito de desenhar, porque nunca tinha visto ninguém que o fizesse. Depois tocou--me a sua cultura, porque tudo aquilo que nós pensávamos que fosse o futuro da arquitectura, que líamos nos livros, que aprendíamos nas lições de matemática, estudando os princípios de Rossi ou de Le Corbusier, Távora já o conhecia. Para nós, ele representava o que significa ser culto em arquitectura. Tudo isto que nós começávamos a estudar e a conhecer, Távora já o conhecia.


    Siza Isto vale também para a minha formação e a da minha geração. Frequentávamos uma escola muito fechada e havia poucas publicações de arquitectura, talvez só L'Architecture d'aujourd'hui, portanto Le Corbusier, Brasília e assim por diante. Durante a minha aprendizagem na escola, ou talvez imediatamente a seguir, Távora fez, graças a uma bolsa de estudo, uma viagem à volta do mundo descrita num diário ainda hoje inédito (1960, viagem de estudo com bolsa da Fundação Gulbenkian de Lisboa). Durante a viagem entrou em contacto com pessoas de todo o mundo, conheceu todas as novidades, todas as pesquisas sobre a arquitectura e relatou-nos. Tratando-se de uma escola pequena, a transmissão directa e pessoal era muito importante e a divulgação imediata. Távora fazia seminários sobre as viagens, falava no atelier, discutia de obras e de materiais, sentimo-lo nomear arquitecturas como a Maison Jaoule. Concluindo, fomos informados de forma directa e valiosa do que ocorria no mundo. Hoje não ocorre nada comparável e a comunicação das experiências de viagens é necessariamente mais dispersa. Apenas mais tarde, com a revista Arquitectura, com o empenho da divulgação da arquitectura portuguesa flanqueou-se uma informação interna mais valiosa e diferenciada, viram-se publicados projectos provenientes de Itália, de Inglaterra, da Holanda; mas, até à altura, o único veículo de informação era praticamente o Távora.


    Souto de Moura O ensinamento do Távora, na Escola de Belas Artes, não se referia tanto ao projecto como aos princípios: o papel do desenho, a compreensão do lugar, a importância da história. O desenho não era apenas uma pesquisa gráfica mas um estudo das proporções. Nós alunos, chegávamos com os nossos desenhos feitos com determinadas regras, e uma das primeiras coisas que o Távora fazia, com uma Parker azul, era verificar as proporções. O projecto do primeiro ano era uma casa para nós próprios, de dimensões mínimas, e lembro-me que vendo os nossos desenhos o Távora, com gestos teatrais e às vezes cómicos, explicava-nos que, por exemplo, um corredor não funcionava. "Não é um corredor - dizia - é um tormento", e fazia de conta que o percorria comentando as dificuldades. Depois começava a traçar grandes círculos no papel e dizia: "Isto tens que aumen-tá-lo!", e eu ficava nervoso porque via-o riscar o desenho sobre o qual tinha trabalhado. Depois passava aos quartos e, sempre com uns círculos, especificava um quarto e dizia: "Agarras neste e pões mais para lá", traçando um círculo noutro lugar. Se se tivesse posto uma garagem à entrada começava a dizer que não havia nada mais feio do que ver a gara-gem em primeiro lugar, com todos os trastes e com o carro. Para explicar que um quarto era pequeno mandava-nos desenhar a cama de casal e, sempre com uns círculos, indi-cava onde não se podia passar.

    Era o controle da planta através das proporções e é certamente um método diferente em rela-ção àquele que eu utilizei nas minhas obras, as quais não precisavam deste controle sendo mais umas composições abstractas, de texturas, de objectos, onde também conta o equilíbrio das cores, como na Casa das Artes (Porto, 1981) onde cada parede tinha uma cor, e provavelmente se as paredes azuis tivessem sido mais altas ou mais baixas não teria tido o mesmo encanto. Hoje procuro sobretudo um conforto da arquitectura e, para obtê-lo, é necessário um gesto que reuna as diversas acções. No momento em que existe um espaço contínuo, o projecto prossegue unindo num gesto acções e elementos autónomos. É um projecto que requer outro género de controle; não sei se é mais fácil ou mais difícil, mas a procura é seguramente diferente, e aqueles círculos feitos com a mina grossa são-me uma grande ajuda. E é importante que não se tratasse de uma mina fina, porque a marca leve teria dado um rigor e uma expressão ao projecto que este ainda não teria e que deveria ser deixado para uma fase final. Távora explicava que os projectos têm duas fases: uma na qual adaptamos o projecto às nossas decisões, e é necessária uma mina grossa; a outra na qual o projecto encontrou a sua solução e é ele que comanda, que pede, assim que torna-se necessário um desenho mais rigoroso, feito com a mina fina.

    Távora foi meu professor no segundo ano, depois segui-se o Soutinho. Depois deixei a escola para trabalhar nos SAAL. Trabalhando como arquitecto, quase me esqueci do Távora. Mas havia referências a ele na arquitectura do Siza e algumas vezes, quando o Siza encontrava-se em dificuldade, dizia: "Se estivesse o Távora, faria assim". Ou ocorria que eu dissesse: "Siza, aqui o programa do projecto não funciona, este espaço não é suficiente", e o Siza me respondia: "Quando num projecto o Távora não consegue alguma coisa, ele acrescenta-lhe um espaço". Quando entrei no atelier do Siza estava-se a concluir a discussão do projecto SAAL e usava-se uma linguagem estranha para mim, não codificada, não era Távora, não era Alvar Aalto, não era Le Corbusier. A minha presença no seu atelier coincidiu com as mudanças que levaram o Siza à linguagem de hoje e foi como um verdadeiro laboratório de experiências, porque naquela época reconsiderava as suas relações com os grandes mestres. Em Portugal, por reacção ao historicismo pitoresco de Salazar, o Movimento Moderno tinha sido considerado radicalmente de esquerda, marxista, quase uma linguagem proibida e, portanto, depois da revolução, descoberta a importância do desenho, apareceu-nos quase como um movimento pós-modernista, pelo simples facto de ser uma linguagem, o produto das velhas ideologias lecorbusianas da Carta de Atenas, mas já ninguém acreditava, para dar um exemplo, que a casa pudesse ser uma máquina. Projectar com o Siza foi para mim uma grande oportunidade de experimentar sem censuras, de participar em concursos, de perceber as plantas dos projectos espanhóis, de compreender porquê Alvar Aalto precisa de utilizar linhas curvas enquanto que a arquitectura italiana tem volumes rectilíneos.

    No desenvolvimento da minha pesquisa Távora aparece mais tarde ajudando-me a compreender que a história é fundamental para o projecto, que um arquitecto tem que ser culto. Comecei a estudar as suas obras em relação ao Siza apercebendo-me que o Távora tinha um método mais abstracto, não era plástico, fazia composições com diferentes materiais; uma casa para ele estava subdividida em paredes, portas, janelas, e tive que intervir no ensino apesar do meu carácter abstracto. O estudo da sua arquitectura acompanha-se do interesse por Rossi, do qual percebi a importância da história não como erudição mas como material do projecto, e por Venturi, conhecido através do Siza.


    [...]

    Porto, 20 de outubro de 2002


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