A tradução de autobiografias é tema pouco investigado nos Estudos da Tradução.
Este trabalho pretende fazer uma contribuição analisando traduções de duas autobiografias de escritores afro‐americanos: Black boy, de Richard Wright (1908‐1960) e I know why the caged bird sings, de Maya Angelou (1928‐2014), tendo, como parâmetro de reflexão, os efeitos que a passagem do tempo acarreta para o processo tradutório. Concebida seja por um/uma escritor(a), poeta, musicista ou outro(a) profissional, a autobiografia parece supor a existência prévia de obras (ou atuações) que fizeram do seu/sua autor(a) uma figura célebre.
Diferentemente do romance, a autobiografia, pressuporia um compromisso com a “verdade”, já que supostamente retrataria eventos que seu/sua próprio(a) autor(a) teria vivido, o que a distanciaria, em tese, da condição de ficcionalidade.
Observa‐se o papel que o tempo exerce sobre o fazer autobiográfico (em vista da diferença entre o presente da enunciação no ato de narrar e o passado que se busca rememorar pela linguagem), bem como sobre o processo de reenunciação promovido pela tradução, impactada pela passagem do tempo que a separa do texto original. As análises indicam a construção de uma expressividade própria nas traduções, por meio da qual cada uma reimagina o “real” autobiográfico em português.
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