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Resumen de O lago Otjikoto e as suas diferentes narrativas

Paride Bollettin, Charbel Niño El-Hani

  • Em janeiro de 2023, no âmbito de atividades do projeto “Educação Intercultural como Diálogo entre Modos de Conhecer e Formas de Conhecimento: Pesquisa Multiestratégica e Colaborativa em Comunidades Tradicionais” (financiado pelo CNPq, Proc. n. 423948/2018-0), realizamos uma viagem de campo à Namíbia. O intuito foi colaborar em estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Namíbia, sob coordenação de Cynthy Haihambo, sobre a evasão escolar de estudantes de diferentes povos San – Hai//om, Ju/hoansi e !Kung – e possiveis transformações na educação dirigida a esses povos, de modo a diminui-la. Em uma das viagens de campo durante essa estadia, duas colegas da Universidade da Namíbia – Cynthy Haihambo e Misitilde Jonas-Iita – e uma mediadora Hai//om – Martha Xoagus, que mobilizava os contatos com as comunidades e lideranças locais no assentamento de Tsintsabis e arredores – nos levaram para conhecer o Sítio de Patrimônio Nacional do Lago Otjikoto, situado próximo à cidade de Tsumeb, na região de Oshiko o, a cerca de 450 quilômetros da capital do país, Windhoek. Este lago sumidouro (ou de dolina) é um dos dois únicos lagos naturais permanentes existentes no país (o outro é o lago Guinas, a apenas 32Km de distância do lago Otjikoto).

    O guia também relatou como o governo colonial alemão usava a água do lago na exploração de uma mina de cobre na vizinha cidade de Tsumeb, bem como que hoje a água é usada para irrigar plantações da região, que é a área agrícola mais importante do país. Ademais, ele contou que, em 1915, o exército colonial alemão, para evitar a entrega de seus armamentos a tropas da África do Sul e da Grã-Bretanha, os jogou no fundo do lago, juntamente com um cofre que até hoje não foi encontrado e do qual não se conhece o conteúdo, o que desperta a imaginação de muitos caçadores de tesouros.

    Segundo o guia, o lago Otjikoto foi “descoberto” pelos exploradores europeus Francis Galton (meio-primo de Darwin, envolvido com o Darwinismo social e o pensamento eugenista) e Carl Johan Andersson em 1851. Ao escutar a explicação do guia, questionamos se os povos locais já não o conheciam. Naquele momento, Martha, do povo Hai//om, o interrompeu para nos contar que, no passado, “um grupo de Hai//om estava andando pelo local, onde havia apenas um caminho de pedra. Um grupo de homens ia na frente, outro grupo de mulheres atrás. O grupo da frente falou que a terra estava tremendo e, de repente, caiu o teto da caverna e o grupo de mulheres se afogou no lago. Por isso, os Hai//om deram-lhe o nome de “lago feio” (Gaisis).” A denominação “Otjikoto” (“buraco profundo”) foi dada pelos Herero, quando passaram a ocupar a área. Este lago é até hoje considerado amaldiçoado ou mal-assombrado pelos Hai//om, relatou Martha.

    Esse foto-ensaio visa descrever a invisibilidade da história Hai//om e de suas relações com o Lago Gaisis ou Otjikoto. Nenhuma menção da história desse povo sobre a origem do lago é encontrada, o que contrasta com a presença de uma placa comemorativa da chegada dos exploradores europeus. Da mesma forma, nenhuma menção é feita quanto à presença de um cemitério Hai//om nas proximidades do lago, o que contrasta com a presença de uma placa lembrando a morte de um turista sul-africano que nele mergulhava. A única presença dos Hai//om limita-se a uma representação exotizada e sensualizada dos mesmos num mural que acolhe os visitantes na entrada do sítio, ao lado de animais "exóticos" da fauna local.

    Essa invisibilidade claramente reproduz o padrão colonial de criação de uma história que visa silenciar a presença das populações locais face à chegada dos colonizadores europeus, uma história que continua ainda hoje sendo combatida na luta dos Hai//om, assim como dos povos indigenas no Brasil e no mundo, pelo reconhecimento de suas terras. Os argumentos neste artigo estão vinculados à descolonização das visões sobre eventos históricos, como parte de um esforço de corrigir sua representação equivocada em países africanos, como a Namíbia, assim como em vários outros países.


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